A aprovação pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) dos termos finais para a licitação da frequência destinada ao 4G, na semana passada, deve servir como “convocação” às quatro principais operadoras de telecomunicações a participarem do certame. Ainda resta saber os preços mínimos pelos lotes da frequência a 2,5 gigahertz, mas, exceto em caso de valores surpreendentemente elevados, Vivo, Claro, TIM e Oi não devem ficar de fora da nova etapa de telefonia móvel no Brasil, mesmo que elas não demonstrem publicamente grande entusiasmo na licitação.
Essa provável adesão ao leilão, contudo, não minimiza preocupações sobre a falta de maturidade global da LTE (principal tecnologia para a Internet móvel de quarta geração), sobre a necessidade do desenvolvimento do 3G no país, e sobre rígidas exigências do governo para as operadoras que atuarem no 4G. “Elas (as principais operadoras) vão ter que participar, é um diferencial competitivo”, disse à Reuters Leonardo Zanfelicio, analista da corretora Concórdia.
Desta forma, analistas acreditam que Vivo e Claro provavelmente serão mais agressivas pelos dois blocos maiores do espectro, enquanto Oi e TIM devem ficar com dois dos blocos menores. “Vemos Vivo e Claro como as candidatas mais prováveis a vencer os blocos de 40 MHz (20+20 MHz), enquanto TIM e Oi devem ficar com os menores (20 MHz, de 10+10 MHz)”, escreveu em nota o analista Alexandre Garcia, do Citi.
Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, concorda. “Quem demonstrou mais interesse foi a Claro (da mexicana América Móvil), que pretende colocar o 4G na América Latina, a Vivo (da Telefónica), que tem puxado o 3G no país”, disse. A ideia de que essas operadoras não podem ficar para trás parece superior à noção de que o 4G é um bom negócio neste momento, ao passo que as exigências do governo sobre áreas de cobertura e a própria falta de maturidade da Internet de terceira geração podem pesar sobre as operadoras.
“Do ponto de vista das operadoras, isso (4G) não é uma necessidade imediata desse espectro, e as operadoras tem que desenvolver suas redes 3G e aumentar capacidade com HSPA+ (tecnologia avançada de 3G)”, afirmou Tude. Pelas regras aprovadas pela Anatel, entre 2012 e 2014, 60 por cento dos investimentos em aquisição de bens e produtos devem ser de tecnologia nacional e todas as sedes da Copa do Mundo deverão ser atendidas a partir de dezembro de 2013, o que analistas acreditam que deve encarecer o processo.
Assim, os investimentos tanto em outorga quanto em equipamento devem ser elevados, podendo prejudicar a margem das companhias no curto prazo -que já têm sido afetadas por conta da forte concorrência, apesar do potencial de geração de receita. “Existe o impacto inicial do investimento, mas há o ganho lá na frente (médio para longo prazo) também”, disse Zanfelicio, da Concórdia, acrescentando que o 4G provavelmente será um serviço mais caro.
As Teles também tem suas opiniões
As operadoras, por sua vez, têm sido reticentes em demonstrar interesse publicamente sobre o leilão do 4G, enquanto investidores e analistas observam o setor com atenção em meio ao aumento de competitividade, que tem corroído as margens das operadoras.
A Oi disse apenas que está analisando os termos do edital, considerando que a Anatel ainda precisa definir “pontos importantes”, e, desta forma, ainda não possui uma avaliação conclusiva sobre a atratividade do leilão.
Em nota à imprensa na semana passada, a TIM considera que a chegada da tecnologia 4G no Brasil neste momento é “prematura”, já que o 3G ainda não atingiu seu potencial, mas diz ter interesse em participar desde que os termos sejam competitivos. Após a aprovação das regras finais pela Anatel, a empresa informou que ainda não mudou este posicionamento.
A Claro não quis se pronunciar, enquanto a Vivo não respondeu pedidos de comentários.
A imprensa, João Rezende, presidente da Anatel, notou que “as operadoras que já estão aqui competindo dificilmente deixarão de participar”, mas afirmou que pode haver interesse de competidores estrangeiros ou brasileiros que ainda não atuam em telefonia móvel no país, algo que analistas consideram improvável.
“Não esperamos que novos entrantes participem no leilão da (frequência) 2,5 GHz por acreditarmos que as obrigações de cobertura e infraestrutura insuficiente possam desencorajá-los de participar no certame”, disse Diego Aragão, analista da corretora Flow, em nota a clientes.
A GVT informou que, apesar dos planos de entrar em telefonia móvel, não tem interesse no 4G neste momento, enquanto a Nextel afirmou que analisará as oportunidades com a publicação do edital.