A partir de R$ 0,99 por semana, custo baixo atrai jovens e baixa renda
Entre o ônibus e o jantar na empresa de autopeças em que trabalha, Edilene aprendeu que “beautiful” é bonito em inglês e “how are you” é como vai você. “Eu amo inglês então quando vi o curso pelo SMS de celular, adorei”, conta a operadora de máquinas de 35 anos, que só tinha noções da língua dos tempos do colégio.
São principalmente clientes como Edilene que motivam os investimentos de empresas de telefonia celular em cursos de línguas por SMS. Pelo preço baixo e a simplicidade da tecnologia, as operadoras apostam que o produto tem potencial de alcançar toda a base de clientes. Os cursos custam a partir de R$ 0,99 por semana, ou R$ 3,99 por mês, e só precisam de um celular que envie e receba mensagens de texto, o que é possível nos aparelhos mais simples.
O alvo principal dos cursos é o público de baixa renda que busca aprender o nível básico de inglês. No caso específico da TIM, o usuário médio do curso tem plano pré-pago e gasta R$ 12 por mês em crédito; 70% deles fazem o nível básico. O inglês via SMS atraiu mais de três milhões de usuários em dois anos para a Vivo e 50 mil em dois meses para a TIM, que espera chegar a 720 mil até o fim do ano, segundo a .Mobi, produtora de conteúdo. A Claro não informa os números do produto, que tem pouco mais de um mês. Com resultados (que não divulgam) nas mãos, as operadoras começam a investir também em cursos de espanhol e aulas de preparação para vestibular e concursos, extensão do ensino para além da sala de aula e cursos corporativos.
Cursos de inglês e preços mínimos
Claro línguas
– adesão: SMS com a palavra “línguas” para 411
– preço: R$ 1,99 por semana
– estudos direcionados para negócios, viagens, diversão e esportes
– tradutor inglês-português para consulta via SMS (R$0,60 por palavra para não assinantes)
TIM+inglês
– adesão: SMS com a palavra “inglês” para 2525
– preço: R$ 0,99 por semana
– para receber aulas e exercícios, envie mensagens “aula” ou “quiz”
– temas das aulas: viagem, trabalho ou geral
– adesão: *6062
– preço: R$ 1,99 por semana
– dúvida e ajuda pelo Facebook: é só curtir a página e interagir
Diga rái
Tecnologia simples, preço baixo, mobilidade e linguagem jovem formam sustentam as expectativas das empresas que investem nos cursos e são os motivos que atraem os clientes. Desde o teste de nivelamento, tudo é feito por mensagem de texto. Algumas trazem conteúdo, outras são um quiz com perguntas sobre o aprendizado. E como a ideia é tornar a língua acessível a todos, os SMS vêm com a pronúncia: “Para dizer oi, em inglês, diga Hi (rái).”
Antes de chegar ao formato da SMS, a Vivo, primeira a lançar o curso via SMS, em 2010, tentou aulas via aplicativo (programas desenvolvidos para os celulares). “Vimos que havia grande procura, mas a grande maioria dos clientes não conseguia utilizar o serviço por conta da limitação do aparelho celular”, diz Alexandre Fernandes, diretor de Produtos e Serviços da operadora. Ter como base o tradicional SMS faz bastante diferença para alcançar mais clientes. “O serviço é uma porta aberta interessante, tem uma penetração muito grande, principalmente entre jovens. É uma ferramenta natural para eles, mais que a voz, por mais surpreendente que isso possa parecer”, diz o gerente de novos negócios da Pure Bros, Daniel Kaestli.
Com vários níveis, as aulas atraem também os iniciados. Depois de ter feito intercâmbio nos Estados Unidos e anos de cursos de inglês, Henrique Gaio, 30 anos, está estudando a língua agora pelas mensagens. “É bom porque dá dicas, eu mantenho o contato com a língua e sempre tem alguma coisa nova ou que não lembrava”, diz. Ele aproveita o tempo na fila, no trânsito e em casa, e reforça as aulas pela internet.
O técnico em eletromecânica Márcio José Moreira, de 35 anos, também retomou as aulas no ano passado via celular, depois de um ano longe dos cursos tradicionais. Para ele, o curso é uma forma de treinar a língua, que ele usa cerca de uma vez por mês no trabalho lendo manuais ou falando com técnicos de outros países. Nessa estratégia de aproveitar o tempo no trabalho para estudar, acabou por não fazer o teste de nivelamento com atenção e está achando o curso fraco. “Considero que estou estudando, mas acho que está fraco, mais para quem não tem contato com a língua.”
“As pessoas estão buscando cada vez mais se desenvolver, e o mobile learning (educação móvel) é uma ótima plataforma para facilitar a disseminação do conhecimento, através do qual os usuários poderão acessar os conteúdos a qualquer hora e de qualquer lugar, bastando estar com o seu telefone celular”, diz Fiamma Zarife, diretora de serviço de valor agregado da Claro.
Diretor da Associação Internacional de Mobile Learning, o americano John Traxler escreveu um manual sobre esse tipo de aprendizado nos países em desenvolvimento como o Brasil e vê o SMS como boa alternativa de complemento. “O SMS não substitui os cursos regulares, mas são ótimos para construir vocabulário, gramática”, diz. O professor da Anhembi Morumbi e autor de um blog sobre educação à distância José Mattar concorda. Sozinhos, os cursos via SMS não devem fazer milagres, mas combinados com outras formas de aprendizado – até virtuais como redes sociais, textos, áudio – são instrumentos poderosos. “Aprender uma língua envolve também som, conversa com outras pessoas. Acho que o uso somente de SMS tornaria a aprendizagem fraca, não seria suficiente.”
SMS ensinam a pronunciar as palavras em inglês
Oi “Hello” (Relou)
Cachorro “Dog” (Dogui)
Nome “Name” (Neime)
Tempo “Time” (Taime)
Lugar “Place” (Pleice)
Onde “Where” (Uér)
O que “What” (Uat)
Trabalhar “Work” (Uorqui)
Mãe “Mother” (Moder)
Frente de investimento
As operadoras veem nas plataformas educacionais uma maneira de agregar valor aos serviços que prestam, por isso devem continuar a desenvolver produtos nesta área. “Hoje acreditamos mais no SMS que nos aplicativos”, diz Fernando Gouveia, da a.Mobi. Com a tecnologia, as operadoras alcançam clientes que não têm poder aquisito nem tem tempo e apresentam produtos. Por R$ 0,99 por semana, um usuário pode ter aulas todos os dias via SMS e ganhar acesso ao mobile site para complementar o aprendizado. Ou seja, o serviço se torna também uma degustação do pacote de dados. Henrique Magalhães não se contentou com os SMS e aderiu ao pacote de dados. “Ainda assim, é mais barato que um curso tradicional.”
A Pure Bros, que faz a intermediação entre as operadoras e as desenvolvedoras de conteúdo, aposta 20% dos investimentos da área de Novos Negócios para serviços de e-learning e espera que os cursos via SMS sejam cerca de 5% do faturamento total até o final deste ano. Para 2013 eles esperam que o setor decole já que os serviços ficam mais conhecidos e o portfólio, maior, gerando um crescimento de 10% ao ano nas receitas. “O segmento de cursos por SMS é novo, coisa de um ano e meio, mas o foco é grande porque nosso mercado depende de ser atrativo para o cliente final e isso as mensagens de texto são”, diz Kaestli.
“Com o SMS, você horizontaliza o acesso e pode chegar a 90% da base de aparelhos. Isso não ocorre com os aplicativos”, diz Elia San Miguel, da Gartner. O mercado de telefonia móvel brasileiro, segundo ela, ainda é tímido e pode aproveitar muito o tempo móvel dos usuários oferecendo serviços como os cursos. A adoção de serviços de valor agregado em serviços móveis tem sido mais tímida na América Latina que no resto dos emergentes porque as empresas ainda não tinham encontrado um modelo de negócios rentável. “Há percepção de que preços de serviços têm de cair e estão indo nesta direção”, diz Elia.
“O SMS ainda é uma ferramenta popular dentre os clientes, mesmo entre os usuários de smartphones. A idéia é permitir o amplo uso do serviço e, com o SMS, não restringimos a solução apenas aos clientes com aparelhos que possuem acesso à internet”, diz Flávio Ferreira, Gerente de VAS da TIM.