O discurso da TIM em relação à suspensão de suas vendas por parte da Anatel mudou. Se, em um primeiro momento, impactada pela agressividade da medida tomada pela Anatel, a empresa manifestava completa insatisfação, a ponto de ir à Justiça, agora o clima é outro.
Em conversa com jornalistas em Brasília, o presidente mundial da Telecom Italia, controladora da TIM, Franco Bernabè, foi extremamente autocrítico e em nenhum momento apontou excessos da agência reguladora ou externalizou responsabilidades pela crise.
Em nenhum momento houve qualquer insinuação sobre uma eventual politização da decisão e muito menos qualquer possibilidade de atritos diplomáticos decorrentes das medidas. Ou seja, pelo menos oficialmente, a TIM não tem nenhuma intenção de vender o episódio como decorrência de um processo de “kirchnerização” da atuação regulatória, como já se começa a ver no discurso de alguns analistas de imprensa e executivos do setor.
A referência, obviamente, é em relação à forma como a presidenta argentina, Cristina Kirchner, vem conduzindo a relação com os setores regulados naquele país. Ao contrário, mesmo informalmente, a TIM diz que tem elementos para acreditar que a presidenta Dilma foi até surpreendida com a dureza das medidas da Anatel.
A estratégia da empresa é trabalhar para que a Anatel libere as vendas até a próxima semana e a partir desse momento mostrar que a rede e o atendimento da TIM estão melhores. A escalação do presidente do conselho da TIM, Manoel Horácio, para as conversas com autoridades, jornalistas e como porta-voz da empresa nas campanhas de mídia é parte dessa estratégia de assumir a responsabilidade.
A TIM reconhece que, de fato, como diz a Anatel, o processo de conversas entre a empresa e agência reguladora em relação à qualidade de suas redes já vinha acontecendo há algum tempo, inclusive com planos de melhoria sendo propostos e metas sendo observadas pela agência.
“É verdade que vínhamos trabalhando com a Anatel em um plano de melhoria, e tínhamos metas de curto e longo prazo. Talvez não tenhamos produzido os resultados esperados. O documento de 800 páginas que apresentamos agora não se faz do dia para a noite, e já é resultado do que estava sendo produzido”, disse Andrea Mangoni, presidente da TIM no Brasil e, segundo Bernabè, “o segundo executivo mais graduado na Telecom Italia”.
Para ele, o sucesso da estratégia comercial da operadora gerou, de um lado, um efeito imenso de inclusão digital, mas, por outro, “pode ter gerado alguns problemas no equilíbrio entre rede e demanda”. Isso foi detectado pela TIM em alguns locais, mas a operadora discorda da leitura da Anatel. “Talvez tivéssemos problemas mais sérios em alguns estados, mas certamente não em 19 que justificasse a paralisação das vendas”, disse ele.
Franco Bernabé vai mais longe e aponta alguns problemas gerenciais que podem ter, inclusive, retardado a capacidade de expansão da empresa. “Em um mercado que cresce muito, e com o sucesso comercial da nossa parte, certamente existe a necessidade de ajuste da infraestrutura à demanda”.
Para o presidente mundial da Telecom Italia, o que a TIM vive é uma “dor de crescimento”. Ele exaltou iniciativas do governo no sentido de agilizar a questão do licenciamento de antenas e desoneração de rede e assumiu a responsabilidade pelos problemas. “A quantidade de investimentos e aquisições que a TIM fez no Brasil gerou grande complexidade de processos e alguns atrasos. É preciso agora ter um empenho organizacional. Estou certo que a conclusão será o fortalecimento da TIM”, disse Bernabè, em relação ao fato de a operadora ter crescido rapidamente com a aquisição da Intelig e da Atimus e de sua estratégia comercial agressiva.
Isso não significa, contudo, que a TIM recuará em sua estratégia comercial. Segundo Andrea Mangoni, “a estratégia comercial da TIM é um sucesso e não vai mudar”.
Para ele, é apenas preciso manter a coerência entre a demanda e a capacidade da rede, “e isso exige que sempre tenhamos a atenção a esse equilíbrio antes de lançar uma nova oferta”. Ele ressalta que a TIM não vai “modificar a estratégia”, mas sim “aprimorará a coerência entre tráfego e rede”. Segundo o presidente da TIM, “as decisões comerciais serão avaliadas sempre sobre onde a rede tiver capacidade”.