O duro cenário de competição em serviços tradicionais de telefonia, somado à necessária tarefa de encontrar um segmento de forte crescimento, está levando as operadoras a alçarem a oferta de TV paga para a ponta de seus negócios.
Ainda encarado mais como uma forma de fidelizar assinantes em pacotes de serviços múltiplos do que como um negócio altamente rentável, sobram motivos para as operadoras avançarem nesse front que, segundo a Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (Abta), gerou receita de 14,6 bilhões de reais em 2011.
Aumento da base de assinantes, barateamento de serviços, questões regulatórias, convergência e baixa penetração estão entre os motivos apontados por analistas para despertar o interesse, e os investimentos, das operadoras de telefonia em TV paga.
“Esse é um mercado que tem muito potencial, a penetração é bem baixa… E há uma tendência no mercado de migrar para esse segmento dadas as promoções que podem existir”, afirmou a analista Jéssica Antunes, da BES Securities.
O setor de TV paga alcançou 14,3 milhões de assinantes no país em maio, alta de 31,5 por cento em 12 meses, segundo a Anatel.
No mesmo intervalo, a base de clientes de telefonia móvel aumentou perto de 19%, ritmo ainda forte, mas com sinais de saturação por uma densidade de quase 130 acessos sem fio para cada 100 habitantes.
Embora no curto prazo alterações significativas no quadro geral do mercado de TV paga, dominado atualmente pelas empresas do grupo mexicano América Móvil e pela Sky/DirecTV, seja improvável, Oi, Vivo e GVT montam suas ofensivas e devem ganhar participação com lançamento de novos serviços.
Para se diferenciar, as operadoras de telefonia planejam planos convergentes com outras tecnologias e aperfeiçoamento de suas redes, com Oi e Vivo mirando explorar fibra óptica para oferecer produtos de ponta.
A Oi, com plano de investir 6 bilhões de reais por ano até 2015, espera iniciar a oferta de IPTV, que utiliza protocolo de Internet para transmissão de conteúdo, ainda este ano, em sua busca de dobrar a base de clientes de TV paga para 1 milhão até o fim de 2013.
“Em TV estamos em uma fase de ”start up” praticamente ainda”, disse o diretor da Oi TV, Ariel Dascal, acrescentando que o segmento deve ganhar relevância dentro do grupo. “A TV é importante na estratégia da Oi.”
A Vivo, por sua vez, decidiu segurar um pouco suas ofertas de TV paga enquanto revê sua estratégia de negócios, mas deve avançar no segmento também a partir deste semestre.
“Estimamos que a Telefônica ganhe mais market share após os lançamentos de novos serviços e serviços integrados, assim como a Oi, que acabaria se beneficiando com os investimentos em fibra”, afirmou a analista do BES.
Procurada, a unidade no Brasil da espanhola Telefónica (Vivo) não retornou pedidos por comentários sobre sua estratégia de TV paga.
Já a GVT, empresa do grupo francês Vivendi que anunciou sua entrada no segmento em 2011, estima chegar a 500 mil usuários ao fim deste ano e se destacar pela qualidade de seu sinal em alta definição e convergência.
“A GVT entende como mais uma linha de negócio e não mais um acessório”, afirmou o diretor de TV por assinatura da empresa, Dante Compagno. “Vemos como um dos pilares de crescimento dos próximos anos.”
Net e Claro, da América Móvil, contam com a força financeira e técnica do grupo mexicano para continuar na liderança, o grupo tem mais de 50 por cento de market share no setor de TV paga brasileiro.
“A Net tem investido mais de 1,5 bilhão de reais por ano para expansão da rede, crescimento da base de clientes e desenvolvimento de novos produtos para o mercado”, disse em nota o diretor de produtos e serviços da empresa, Marcio Carvalho.
Para conseguir fazer o negócio de TV paga mais lucrativo, as operadoras de telefonia terão que ganhar escala para compensar os investimentos e os custos com provedores de conteúdo.
“O negócio de TV, como qualquer de telecomunicações, é turbulento, envolve muito investimento. Ninguém entra no negócio de TV para ter retorno imediato”, afirmou Dascal, da Oi TV.
“A TV paga acaba tendo no início uma margem baixa, com altos custos com provedores dos canais. Mas com escala, a partir de 1 milhão de assinantes, há ganhos em promoções com pacotes”, disse a analista do BES.
“A gente acha que ‘player’ de TV com menos de 1 milhão de assinantes é um ‘player’ ainda sem muita significância”, concordou o diretor da Oi TV.