14/11/2024

Telefônicas brigam por data center em nuvem

Com as receitas de voz em queda, as operadoras de telefonia fixa estão buscando alternativas para aumentar o leque de ofertas para clientes corporativos. Um dos novos negócios que as teles começam a explorar é a venda de infraestrutura de TI como serviço (IaaS), aproveitando que elas já fornecem a conectividade, insumo essencial para a operação de cloud computing. Oi, Embratel, Vivo e TIM apresentaram ofertas de nuvem. A GVT ainda se mantém em silêncio, mas não deve ficar de fora dessa seara, já que a companhia entrou recentemente na área de data center.

Os projetos das teles para exploração do mercado de cloud computing entraram em prática a partir deste ano. Foi a Oi a primeira a apresentar a sua plataforma de nuvem para o mercado. Em seguida, a Vivo detalhou sua estratégia e em setembro foi a vez da Embratel lançar a sua oferta de IaaS para competir com prestadores de serviços de data centers convencionais que, já estão atuando nessa área, como é o caso da Amazon, Tivit, HP, IBM e Ativas.

A TIM fala que está oferecendo serviços de IaaS desde março desse ano, com estratégia silenciosa. Diferentemente das outras teles, o braço corporativo da operadora do grupo italiano optou num primeiro momento por se lançar na nuvem com ajuda de dois parceiros de data centers, que são a Dualtec e a Ativas.

“A parceria com essas empresas foi uma forma de entrarmos mais rápido nesse mercado”, justifica Marcos Senna, gerente-executivo de novos negócios da TIM. Porém, ele explica que a operadora ainda está revisando sua estratégia para saber se continuará prestando serviços na nuvem com data center de terceiros ou se terá sua infraestrutura própria. 

A TIM tem data centers, mas o executivo argumenta que eles ainda são Tier II e que estão mais voltados para atender a demanda interna da companhia, que está em crescimento acelerado. Ele observa que hoje o Brasil está abastecido de centros de dados bem equipados com certificação Tier II, que podem ser contratados pela operadora. 

Pelo modelo de negócio, a TIM e os parceiros podem vender sua oferta, adicionando seus links de comunicação. Sua solução de IaaS conta backup sob demanda, monitoramente de segurança, serviços de e-mail, storage e firewall com pagamento de acordo com o uso. 

Num primeiro momento, o alvo são as grandes contas da operadora, mas a segunda etapa prevê entrega de soluções de IaaS para os médios negócios. No futuro, Senna acredita ser possível chegar até aos consumidores finais, com ofertas de massa. “Está no roadmap da TIM ter serviços em nuvem para o mercado SoHo e residencial”, anuncia o executivo.

Na Oi, a plataforma “Oi Smart Cloud”, lançada em fevereiro, e que prevê inicialmente serviços de infraestrutura de TI (Iass) tem como público-alvo 15 mil empresas de grande porte, que faz parte da base de clientes da operadora. O serviço foi baseado na oferta que a Portugal Telecom, que tem participação na operadora, já oferece em Portugal.

Dois meses depois da Oi, a Vivo iniciou a comercialização de seus produtos de IaaS batizados de “Vivo Cloud Plus”. A oferta lançada em abril desse ano inclui armazenamento, processamento, backup, entre outros. A operadora está oferecendo o serviço por meio de cinco data centers espalhados na América Latina, localizados no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia e Peru. 

No Brasil, a Vivo estima que os serviços na nuvem devam responder por um terço do crescimento de serviços de TI em 2012. Na América Latina, o segmento atende mais de duas mil empresas. Segundo a operadora, das mil maiores companhias atendidas, 30% já utilizam suas soluções de TI e conectividade.

Maurício Azevedo, diretor de Marketing para o segmento corporativo da Vivo, informa que a tele atacará na segunda etapa as pequenas e médias empresas (PMEs), com ofertas de software como serviço (SaaS). A operadora colocou um piloto no ar para atender a esse segmento. A expectativa do executivo é que nuvem ajude a unidade de serviços de TI da operadora a crescer 25% em 2012. 

A Embratel, controlada pelo grupo mexicano América Móvil, se lançou na nuvem no mês passado. Sua oferta foi apresentada ao mercado durante a inauguração de seu mais moderno data center, localizado na cidade de São Paulo. O empreendimento recebeu um investimento de 100 milhões de reais e foi erguido para funcionar conectado com a plataforma de cloud computing da companhia já em operação em outros três países: Colômbia, Argentina e México.

A operadora terá a modalidade de infraestrutura como serviço (IaaS) e software como serviço (SaaS). “É uma nova etapa na vida da Embratel. Vamos vender serviço de nuvem pelo nosso portal. Nosso público alvo são as pequenas e médias empresas”, informa José Formoso, presidente da Embratel.

Para João Rezende, presidente da Anatel, o novo investimento da Embratel reforça a infraestrutura de tecnologia da informação e telecom no Brasil para atender empresas que não possuem data center próprio. Já o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, comentou que o Brasil tem muito espaço para prestação de serviços em nuvem. Porém, reconheceu que o País precisa desenvolver uma política pública para que esse modelo ganhe força aqui. 

“Estamos conversando com o BNDES e indústrias para saber que política pública podemos adotar”, disse Paulo Bernardo. Mas afirmou que antes disso precisa ouvir os prestadores de serviços, como a Embratel e universidades para entender como esse processo será realizado no País.

O negócio de cloud computing no Brasil está movimentado. A chegada da Amazon Web Service (AWS) ampliou a competição com prestadores de serviços de TI locais, como Tivit, UOL Diveo, HP, IBM, Locaweb, Alog e Hostlocation, entre outros. 

As teles devem esquentar essa briga, já que elas possuem algo a mais que os data centers convencionais, como infraestrutura, base de clientes e habilidade em cobrar os serviços.

As operadoras de telecom levam vantagem na disputa do mercado de cloud computing por ter a conectividade e também pela a expertise em bilhetagem. Anderson Figueiredo, analista de mercado da IDC, observa que as teles têm em seu DNA o que os outros provedores não têm, que é saber cobrar de acordo com o que o cliente consome, pois esse é o negócio delas com telefonia fixa e móvel.

“Mais que ninguém, elas sabem cobrar por uso. Por isso, as teles vão saber mais mostrar aos clientes numericamente as vantagens da contratação de cloud computing”, acredita Figueiredo. Ele constata que muitas companhias não contrataram ainda nuvem porque os prestadores de serviços não conseguem esclarecer o ROI. “As empresas só vão conseguir vender nuvem se provar que é bom”, enfatiza.

O analista da IDC avalia que operadoras demoraram mais para entrar nesse mercado porque precisavam se preparar. Elas tiveram que entender melhor o que é cloud para ajustar suas ofertas de acordo com o que o mercado está pedindo. Porém, não estão atrasadas. Como cloud computing ainda não explodiu no Brasil, elas não perderam o bonde. 

O consultor lembra que um estudo realizado pela IDC em março do ano passado constatou que apenas 18% das companhias brasileiras sabiam o que era cloud computing. Agora, ele acredita que o mercado já está assimilando melhor o conceito e que as teles têm papel importante em esclarecer esse modelo de se comprar TI. 

Apesar disso, Figueiredo não acredita que as teles vão alterar muito esse jogo e ser mais competitivas que os data centers tradicionais. Na sua opinião, elas apenas chegam mais preparadas que os concorrentes que estão há mais tempo nessa seara. Ele acredita que há espaço para todo, em razão de esse negócio estar apenas começando no Brasil.

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