Num texto assinado por Nuno Fernandes, professor na IMD (International Institute Management Development), uma escola de negócios na Suíça, o processo de venda da Vivo pela Portugal Telecom (PT) à Telefónica é usado para deixar a lição: “o valor dos ativos depende de quem os detém, e das sinergias e do valor que deles se pode extrair. Entretanto, vários fatores permitiram à PT rejeitar uma aparente oferta atrativa para alcançar um acordo melhor para os seus acionistas. O que incluiu: apoio unânime do conselho de administração, um recorde na entrega de resultados, conhecimento da importância estratégica do ativo para o oferente, e uma boa relação com investidores que garantiu um apoio acionista generalizado”.
Nuno Fernandes, que já foi analista de risco no Banco Espírito Santo, explica o negócio em duas colunas, lembrando os 5,7 mil milhões de euros a que a Telefónica se propos inicialmente a comprar a participação da PT na Vivo, lembrando o preço final fixado para o negócio de 7,5 mil milhões de euros.
O professor fala na via mais fácil que Zeinal Bava optou por não tomar, que seria a de vender a participação na Vivo assim que surgiu a primeira oferta, a um preço já considerado atrativo. “Zeinal Bava teve de decidir o que era melhor para os seus acionistas”. Rejeitar a oferta foi arriscado, havendo, segundo Nuno Fernandes, o perigo de afetar a credibilidade da PT junto dos investidores. Mas a mensagem unânime do conselho de administração e os “road shows” da gestão nos mercados internacionais impediram esses danos. “De forma crucial, a credibilidade da PT no mercado de capitais era alta. De facto, a equipa de gestão ganhou vários prêmios pelo trabalho na relação com investidores”.
Nuno Fernandes acredita que a PT sabia que a Telefónica não iria abrir mão facilmente da pretensão de ficar com a totalidade da Vivo, essencial para consolidar com a sua operação brasileira nas telecomunicações fixas. “E como uma das maiores operadoras de telecomunicações do mundo, a Telefónica estava sob pressão dos investidores para fortalecer a sua posição no Brasil”.
Pelo meio, uma guerra hostil sem precedentes entre PT e Telefónica, mais subidas de preço e bloqueio da operação pela utilização da “golden share” pelo Estado português. Até se chegar ao acordo, em Julho de 2010, para a PT vender a sua posição na Vivo por 7,5 mil milhões de euros, acima da capitalização bolsista da operadora portuguesa. A PT ainda utilizou 3,7 mil milhões de euros para entrar na Oi. Entregou 1,5 mil milhões de euros aos acionistas. E utilizou o resto para fortalecer a sua flexibilidade financeira. Uma história de três meses em duas colunas esta terça-feira na página 10 do “Financial Times”.