Mais que monitorar a posição de um caminhão que leva produtos a um supermercado, interessa ao dono de uma empresa saber como o veículo está sendo conduzido. Qual a velocidade máxima que o motorista está alcançando? As freadas estão sendo bruscas a ponto de provocar um desgaste excessivo dos pneus? Seria possível economizar combustível?
Resolver essas e outras questões é um desejo crescente das companhias brasileiras. Um indício dessa tendência é o interesse das operadoras de telefonia nos sistemas conhecidos como M2M (Máquina a Máquina), que conectam diferentes equipamentos para a implementação de serviços. A Vivo anunciou ontem, em São Paulo, o lançamento da plataforma Smart Center para gerenciar essas conexões entre aparelhos.
A companhia aposta nos mercados de gerenciamento de frotas e de força de vendas. Se o funcionário tem entrega para fazer em determinados bairros, por exemplo, e sai da região, o dono do negócio pode receber um alerta por SMS ou ligação: empregado fora da rota. O carro “conversa” com o celular por meio de uma conexão à internet. “É uma nova onda das telecomunicações que vai permear as nossa vidas”, diz Paulo César Teixeira, diretor geral da Vivo no País.
Na Europa, a Telefônica, que no Brasil usa a marca Vivo, trabalha com o sistema de M2M em parceria com a empresa Masternaut, especializada no gerenciamento móvel de recursos. No Brasil, o sistema ainda está em desenvolvimento, mas a empresa já tem cerca de 1 milhão de pontos de acesso, 40% deles usados por pequenas e médias empresas. Quinze por cento dessas conexões, segundo a companhia, são de máquinas sem fio de cartão de crédito e débito.
A Vivo é a primeira operadora do País a oferecer uma plataforma que gerencia serviços de M2M. Mas, em número de terminais, a Claro lidera, com quase 3 milhões de pontos de acesso, seguida pela TIM (1,2 milhão).
As principais indústrias que a Claro atende são as de máquinas de cartão de crédito e a de monitoramento de veículos. As duas respondem por 80% da procura. O restante é composto por companhias de portes e segmentos variados, como empresas de energia e de água.
O diretor de vendas corporativas da Claro, Jacinto Luís Miotto Neto, diz que a operadora também vai implantar uma plataforma de gerenciamento de serviços M2M em vários pontos da América Latina até o primeiro trimestre de 2013. O procedimento será conduzido em parceria com a empresa Jasper, especialista em conexões de equipamentos pela internet.
Um dos estímulos para os investimentos em M2M, segundo o executivo, é o Sistema Nacional de Identificação Automática de Veículos (Siniav), que estipula que os carros novos saiam da fábrica com um chip próprio a partir de 2013. Ativá-lo ou não será uma escolha do usuário.
Professor associado da Escola Politécnica da USP, José Roberto Amazonas diz que a comunicação máquina a máquina já se mostra útil em vários segmentos, incluindo o setor público, para o controle de tráfego, por exemplo. “Eu considero o campo muito promissor”, diz o professor. Amazonas se dedica ao estudo da comunicação entre objetos e humanos, área conhecida como “Internet das Coisas” (IoT, na sigla em inglês), da qual o M2M faz parte.