O conglomerado francês de comunicação Vivendi quer levantar ao menos 7 bilhões de euros ($ 8,9 bilhões de dólares) com a venda da operadora brasileira de telecomunicações GVT, e recebeu manifestação de interesse no ativo de pelo menos quatro companhias, disseram duas fontes a par da situação.
Ambas as fontes, que falaram sob condição de anonimato, disseram que a Oi, América Móvil, DirecTV e Telecom Italia estão participando das conversas iniciais sobre o processo de venda da GVT.
Fundos de investimento também mostraram interesse na GVT, disse uma das fontes, sem entrar em detalhes.
Um preço de compra de 7 bilhões de euros seria mais do que o dobro do valor que a Vivendi pagou em 2009 pela GVT, provedora de serviços de telefonia fixa, banda larga e televisão em 120 cidades brasileiras.
A Vivendi, que está vendendo ativos para cortar dívida e melhorar o preço de sua ação, busca receber ofertas vinculativas pela GVT no primeiro trimestre de 2013, disseram as duas fontes.
A venda da GVT é um sinal de que a empresa francesa está procurando reduzir sua presença no setor de telecomunicações para focar-se mais em seus ativos de mídia, acrescentaram as fontes.
A Vivendi decidiu colocar a GVT à venda no mercado há alguns meses, em um momento no qual revisa seus portfólios de negócios em telefonia móvel, videogames e música. O grupo francês também busca um comprador para sua fatia controladora na Maroc Telecom.
“Sinergias entre GVT e outras unidades da Vivendi não foram tão fortes quanto a companhia imaginava”, disse uma das fontes. “Mas isso não significa que a Vivendi vai entrar em um esquema de vendas de fim de ano e vender a GVT a qualquer preço. Não há chance de isso acontecer.”
As ações da Vivendi acumulam alta de 28% desde o começo de abril por esperanças que a administração consiga reformular a companhia, manter robustos pagamentos de dividendos e proteger seu rating de grau de investimento.
A ação tinha tido queda de 68 por cento entre janeiro de 2011 e março deste ano. Investidores vinham questionando a estrutura da Vivendi que engloba telecomunicações e mídia, assim como a capacidade de a empresa manter o crescimento e os lucros frente à forte concorrência enfrentada pela SFR, seu braço de telecomunicações na França.
Um porta-voz da Vivendi se recusou a comentar sobre o assunto.
Ligações às assessorias de imprensa de Oi e América Móvil não foram imediatamente respondidas. O presidente-executivo da DirecTV, Mike White, disse a investidores na noite de terça-feira que a provedora norte-americana de televisão via satélite está nos primeiros estágios de avaliar uma proposta de aquisição da GVT.
Um porta-voz da Telecom Italia não tinha comentários imediatos.
A GVT tem sido uma grande fonte de crescimento para a Vivendi nos últimos anos, mas o preço estabelecido pela unidade pode se mostrar ambicioso à medida que o processo de ofertas progride.
A esse preço, a GVT seria avaliada a oito vezes o lucro estimado para 2013, bem acima da avaliação média de 5,5 vezes pela Oi, América Móvil e outros rivais latino-americanos, de acordo com cálculos da Thomson Reuters.
Profissionais do mercado financeiro não envolvidos na transação disseram à Reuters que altos níveis de dívida na Telecom Italia e Oi podem impedir que elas façam ofertas pela GVT. Preocupações antitruste também podem representar um obstáculo para a Oi, adicionaram ambas as fontes.
A América Móvil, gigante das telecomunicações controlada pelo homem mais rico do mundo, o mexicano Carlos Slim, pode não aceitar pagar o alto preço exigido pela Vivendi, acrescentaram as fontes. A estratégia de expansão de Slim na América Latina e Europa tem sido mirar companhias que vê como subvalorizadas.
Uma terceira fonte próxima ao processo disse à Reuters que um consórcio de grandes companhias de private equity baseadas nos Estados Unidos pode realizar uma oferta pela GVT, mas não precisou quais seriam esses grupos.
Uma outra fonte disse que a venda da GVT não implica que a Vivendi deixará o Brasil. “O Brasil é um mercado forte para conteúdo e mídia”, disse a fonte. “A Vivendi é a maior em música devido ao Universal Music Group… e há forte demanda por videogames (no Brasil).”
A Vivendi pagou cerca de 3 bilhões de euros pela GVT no fim de 2009, superando a espanhola Telefónica/Vivo que tentou comprar a empresa.
A Vivo, que analistas e profissionais do mercado financeiro veem como outra possível compradora da GVT, não está participando do processo, disseram duas das fontes.
Deutsche Bank e Rothschild são os assessores da Vivendi na venda da GVT.