Tão logo desembarcou no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, ao voltar de férias do Exterior com sua família, na terça-feira 22, o executivo gaúcho Francisco Valim recebeu um telefonema de Otávio Azevedo, presidente do grupo Andrade Gutierrez, um dos controladores da empresa de telefonia Oi. A ligação não era uma chamada normal, muito menos uma conversa cordial de boas-vindas. Ao contrário. Valim, que estava há 18 meses na presidência da operadora e era o responsável por seu projeto de reestruturação, recebeu a informação de que estava demitido. Chegava ao fim uma relação que aos olhos do mercado estava bem, mas que para quem conhecia o dia a dia da Oi parecia insustentável, segundo uma fonte próxima da companhia.
“Não foi nenhuma surpresa para quem trabalhava na Oi”, diz essa fonte. José Mauro Mettrau Carneiro da Cunha, que era presidente do conselho de administração da Oi, foi indicado para assumir interinamente o comando, até a escolha de um novo presidente. A demissão de Valim fez as ações preferenciais da Oi na Bovespa desvalorizarem-se 13,2% na semana passada. O mercado, que avaliava bem a gestão de Valim, não entendeu, num primeiro momento, os motivos da demissão. “A companhia não explicou as razões da mudança”, escreveu a analista Vera Rossi, em um relatório do Barclays. “Acreditamos que esses movimentos ressaltam os desafios à frente da Oi.”
Um analista de uma corretora, que acompanha o mercado de telecomunicações, também questionou a saída de Valim. “A Oi estava em um processo de reestruturação que vinha dando resultado”, afirma ele, que não quis ser identificado. Para aplacar a reação do mercado, a Oi (que é controlada pela LaFonte, da família Jereissati, pela AG Telecom, do grupo Andrade Gutierrez, pela Portugal Telecom e pelo BNDES com fundos de pensão, como a Previ, Petros e Funcef) antecipou informações não auditadas de seu balanço, cujos detalhes serão divulgados em 18 de fevereiro. Mais uma vez, os números da operadora causaram surpresa no mercado, pois indicavam que estavam em linha com o plano apresentado pelo próprio Valim, em abril.
A receita líquida com serviços foi de R$ 27,5 bilhões, excluídas as receitas com as vendas de celulares e modens 3G. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) atingiu R$ 8,7 bilhões. E a dívida líquida ficou em R$ 25 bilhões. Com isso, a empresa garantiu o pagamento de dividendos de R$ 1 bilhão aos acionistas. Diante disso, como explicar a queda de Valim? Confira o que diz um dos controladores, que não quer se identificar. “O Falco (Luiz Eduardo Falco, ex-presidente da Oi) reclamava que não crescia, porque não tinha como investir”, diz. “O Valim teve dinheiro para investir e nada mudou.”
Na visão da fonte, a Oi continua a liderar as reclamações dos consumidores e não evoluiu de forma significativa em nenhum mercado em que atua. Além disso, prossegue, Valim teria gasto pelo menos R$ 500 milhões a mais do que os R$ 6 bilhões previstos para investir em 2012. Em dezembro do ano passado, em reunião com os controladores, o executivo sustentou que precisava de R$ 7,5 bilhões para tocar o plano, em 2013, e sugeriu o não pagamento de dividendos aos acionistas. Segundo outra pessoa familiarizada com os bastidores da Oi, Valim tinha uma maneira demasiadamente assertiva e autossuficiente, que criava desconforto entre seus executivos e os próprios controladores. “Ele gostava de bater no peito e dizer deixa comigo”, diz. No final, os controladores da Oi
resolveram deixá-lo de lado.
PROMOÇÃO: Comente sobre nossa matéria especial de hoje, expresse suas ideias sobre o assunto, conte qual o real motivo da queda de Valim na Oi na sua opinião e concorra a uma recarga para o seu celular. O comentário mais curtido, ganha. Garanta seus créditos da semana!