22/12/2024

Plano Nacional de Banda Larga deve sofrer alterações

Um ano após ser lançado pelo governo, o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), que oferece internet fixa a R$ 35 por mês com velocidade de 1 megabyte (MB), encerrou 2012 com 1,2 milhão de usuários em 2.300 cidades. Mas analistas acreditam que o número poderia ser 3 vezes maior. Para tentar reverter esse quadro, o Ministério das Comunicações e a Telebras estudam duplicar a velocidade de dados já este ano, chegando a 2 MB por mês e preço entre R$ 35 e R$ 40.

O quadro fica mais crítico quando se considera a meta ousada do governo: chegar a 2014 com 40 milhões de lares conectados à internet com velocidade mínima de 1 MB. Hoje, segundo dados do IBGE, somente 22,395 milhões de casas (36,5% do total de lares do Brasil) têm algum tipo de conexão à rede.

“Será preciso um crescimento muito elevado neste ano e em 2014. O PNBL deveria, ao menos, estar crescendo três vezes mais. A primeira barreira é o computador, presente só em 40% dos lares” diz o consultor Virgilio Freire.

Criado para aumentar a inclusão digital no país, o PNBL esbarrou na resistência inicial dos provedores e das operadoras de telefonia em aderir à oferta, explica o presidente da Telebras, Caio Bonilha. Segundo ele, o plano, lançado em outubro de 2011, só começou a ganhar impulso em meados de 2012. Mas os obstáculos vão além, lembram especialistas, como a concorrência com os planos de conexão à internet dos celulares pré-pagos e a baixa presença de computadores nos lares brasileiros.

Além das teles como Oi, Vivo, Claro e TIM, a Telebras aluga sua rede para os provedores, que vendem o PNBL para o consumidor final. Bonilha conta que em dezembro de 2012 havia 97 contratos ativos com pequenas empresas de internet, de um total de 150 acordos já assinados. A rede da Telebras já foi instalada em 900 municípios.

“Dos clientes totais do PNBL, a Telebras representa algo entre 5% e 8%. Ainda é pouco. No início houve muita resistência, pois as empresas acreditavam que a oferta (de R$ 35) iria canibalizar os seus produtos” diz Bonilha.

Só que os preços menores não foram suficientes para impulsionar o plano.

“Quem pode foge do compromisso de pagar uma conta mensal. Por isso, as lan houses e as ofertas pré-pagas de internet acabaram competindo com o PNBL. O plano está conseguindo atender à população sem histórico de consumo de internet. Mas muitos clientes acabam migrando para planos com maior capacidade” explica Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, especializada em telecomunicações.

É por isso que o governo quer dar mais força ao PNBL em 2013. André Moura Gomes, gerente do Departamento de Banda Larga do Ministério das Comunicações, diz que o objetivo é aumentar a velocidade do plano para atrair mais consumidores: “Estamos discutindo com a Telebras o aumento na velocidade”.

O próprio presidente da Telebras admite que 1 MB é pouco: “O PNBL tem que se atualizar, aumentando a velocidade e ampliando a sua rede. Em 2012, colocamos 15 mil quilômetros de rede em operação. No fim de 2012, ativamos a rede no Nordeste, que soma 4,6 mil quilômetros”.

Com o PNBL ainda engatinhando no Nordeste, a pernambucana Manuela Conceição da Silva Gomes, de 27 anos, sente na pele o problema do alto custo da banda larga. Moradora da comunidade do Caranguejo, na Zona Oeste de Recife, ela não encontrou nenhum pacote compatível com sua renda, seu marido está desempregado e ela trabalha no comércio. A operadora exigia a instalação de linha fixa para fornecer o acesso à internet, por um custo que superaria os R$ 100 mensais.

Sem opção, ela optou pela internet compartilhada, que vem se tornando comum nas comunidades de baixa renda da cidade. Vários vizinhos dividem uma mesma assinatura, o que dá um custo máximo de R$ 30 por residência. A comunidade tem 4 mil moradias.

“Comprei o computador há três anos, em 11 prestações. Acabei de pagar, mas não tinha internet”, conta Manuela. “Meu vizinho comprou um serviço de 10 MB e compartilha com cinco famílias”.

No Rio, a vendedora Claudia Amaral, de 22 anos, mora próximo ao Morro dos Macacos, em Vila Isabel. Ela contratou o plano de R$ 35, mas reclama que só consegue acessar de madrugada: “Esses R$ 35 estão sendo muito mal gastos. Acho que é melhor ficar na internet do celular pré-pago.”

Procuradas, as operadoras não quiseram falar sobre o PNBL. A Vivo afirmou em nota que, “à medida que o cliente passa a usar o serviço, naturalmente sente necessidade de opções de internet com maior desempenho e velocidade”. A Oi ressaltou que o país só estará coberto no fim de 2014. O presidente de uma tele, que pediu para não ser identificado, disse que é quase um usuário por quilômetro de fibra óptica: “Quando você sai dos grandes centros, o custo de rede é muito maior. Não tem subsídio e lá não vai ter a mesma demanda dos grandes centros.”

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