22/12/2024

Pagamentos móveis são arma contra o churn nas operadoras

Como antecipado no Mobile World Congress deste ano, em Barcelona, as empresas estão de olho no mercado de pagamentos móveis também na América Latina. Durante o congresso TM Forum, que aconteceu em São Paulo, o m-payment mostrou-se como uma febre entre os vários representantes do setor de telecomunicações e agregados, que enxergam a tecnologia como uma arma contra a fuga de usuários para a concorrência (churn), aumentando a lealdade do consumidor. Mas a empolgação não significa que todo o seu potencial será explorado tão rápido.

Para o diretor de produtos de pagamentos móveis da MasterCard Brasil, Eduardo Neubern, a história mostra que a disponibilidade da tecnologia não significa que ela será adotada em massa tão cedo. “Tem que fazer sentido do ponto de vista econômico. Com a Internet foram 40 anos, com o chip, 20 anos”, compara. “Não que com o m-payment necessariamente será assim, mas significa que não será espontâneo”, alerta. Ou seja, as companhias precisam se mexer.

Na visão de Neubern, já nem existe mais uma briga pelo negócio, pois foi criada uma nova cadeia de valor na qual bancos, operadoras, bandeiras e adquirentes não competem. Na verdade, o oponente pode aparecer na forma de novos players, como a Amazon, o Google ou mesmo consoles de videogame. Oi, Claro, TIM e Vivo já estabeleceram parcerias no Brasil com bancos, instituições financeiras e até mesmo serviços over-the-top (OTT) como o PayPal.

“O ponto-chave é o engajamento entre os participantes da cadeia. Se não estiverem muito bem alinhados, começará a ter ruptura nas parcerias”, alerta o executivo.
Para as operadoras, o pagamento móvel faz sentido basicamente por dois motivos: as oportunidades de negócios com a bancarização de dois bilhões de pessoas no mundo e o churn. A diminuição da fuga de usuários para outras empresas acontece porque um serviço de carteira digital pode vincular até mesmo um cliente pré-pago. “Qualquer coisa que diminua 0,5% do churn já ajuda”, avalia Neubern.

O executivo da MasterCard enxerga no Brasil várias condições favoráveis para o m-payment decolar, como a infraestrutura segura de bancos, a capilaridade da rede de telefonia e as entidades financeiras modernas. Mas ele ressalta que há vários programas fechados que agem por tentativa e erro, o que pode acabar atrasando ainda mais a massificação da tecnologia, que tipicamente precisa ter margens operacionais baixas. E precisa também ser pertinente. “O m-payment não vai substituir o cartão, a gente entende que tem experiências nas quais ele faz sentido. São outras operações as que o mobile pode ajudar”, destaca. “Já começa a existir soluções online e offline. Convergência de funcionalidades também, com o NFC entre elas”, diz, citando modelos de negócios como compras coletivas, programas de fidelidade e múltiplos canais/plataformas para transações.

Gerente de telecom da Frost & Sullivan, Renato Pasquini afirma que os pagamentos móveis são uma das maiores tendências para a América Latina. “Todas as operadoras estão desenvolvendo (um projeto). O principal driver é a população não bancarizada”, declara. Pasquini afirma que a Cielo é um dos principais players na região com a tecnologia, mas que há a chegada de novos entrantes, como o Google Wallet, o PayPal e o AmazonPayments.

Mas precisa ter infraestrutura também. Nelson Boffa, conselheiro da presidência da Antel, do Uruguai, é gerente do projeto de pagamentos Bit$, que inclui carteira eletrônica com recargas, envio de fundos e pequenas transações. O programa conta com métodos de pagamento múltiplos, com associação com a bandeira Visa e pela própria fatura do pós-pago. Mas há um grande problema: falta a modalidade ser difundida. “Há poucas máquinas de venda (POS) fora de Montevidéu”, reclamou.

Outra vertente pode ser um pouco mais imediata. Segundo a Ericsson, o volume de transações do comércio eletrônico móvel no mundo em 2017 será de US$ 800 bilhões, o que significa uma oportunidade de US$ 26 bilhões em receita. Na América Latina, 70% da população não é bancarizada, mas 80% dos mais de 600 milhões de habitantes possuem aparelhos pré-pagos.

“O m-commerce é o novo SMS”, compara o vice-presidente e diretor de vendas da Ericsson, Lars Arvidsson. “Todo mundo é cliente, é um mercado massivo. E é uma nova forma de receita, que não canibaliza”, assegura. Arvidsson reitera que há muitas oportunidades para as operadoras, que podem utilizar a própria infraestrutura e melhorar a lealdade do consumidor. “Ainda é fácil fazer bundles com voz, SMS, dados e dinheiro móvel virtual”, comemora.
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