São Paulo é considerado o filé-mignon do mercado interno para empresas dos mais diferentes setores. Na telefonia não é diferente. Nada menos de 24% de todas as linhas de telefonia fixa do País estão no Estado. Por conta disso, é difícil imaginar um projeto bem-sucedido nessa área que não inclua uma ligação direta com a capital paulista. Entre as cinco maiores operadoras de telefonia, a única que não atua junto a clientes residenciais na região é a curitibana GVT, que fechou 2012 com receita de R$ 4,4 bilhões. A empresa nasceu em 1999, como espelho da Brasil Telecom, na região Sul, e foi a única do gênero que conseguiu sobreviver e se manter independente.
Após algumas tímidas incursões para atender clientes corporativos, a GVT, enfim, pretende desembarcar para valer na cidade. A nova fase vivida pela companhia está ligada à desistência de sua controladora, a francesa Vivendi, em vendê-la para fazer caixa. Para fortalecer a musculatura da GVT, o presidente da operadora, o israelense Amos Genish, vai buscar recursos no mercado acionário. A estruturação da oferta pública inicial de ações (IPO) na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) já estaria encomendada ao banco Credit Suisse. Tanto o banco quanto a direção da operadora não quiseram confirmar as negociações, mas pessoas próximas a Genish confirmam a história.
“Acabou o capítulo da venda”, disse uma dessas fontes. “Agora, é hora de buscar recursos no mercado para financiar o crescimento da companhia.” A operação poderá render entre R$ 18 bilhões e R$ 20 bilhões ao caixa da GVT, montante quase nove vezes maior que o obtido em 2007, na primeira vez que ela foi ao mercado. Antes de partir para a reabertura de capital, a Vivendi, acuada por dívidas, tentou até março vender a empresa. A francesa pagou R$ 7,7 bilhões pela brasileira, em 2009, em uma disputa com a Telefônica|Vivo, e agora pretendia receber mais de R$ 17 bilhões em uma transação que quase acabou sendo concretizada com a americana DirecTV|Sky. Mesmo sendo uma empresa de capital fechado desde 2010, a GVT é considerada uma noiva atraente.
Encerrou o ano passado com Ebitda, número que mede o resultado excluindo os efeitos de juros, impostos, dívidas e amortizações, de € 740 milhões. Em 2012, atingiu uma base de 2,2 milhões de clientes de banda larga e obteve uma taxa de crescimento de usuários de 30%. Bem acima da de suas concorrentes Oi e Vivo, que cresceram minguados 15% e 3%, respectivamente. O plano do executivo israelense para São Paulo contempla, de imediato, R$ 400 milhões de investimentos em uma rede de fibras ópticas. A empresa, que não quis conceder entrevista, informou, por meio de nota, que “pretende iniciar o atendimento a esses clientes no segundo semestre deste ano.” Em São Paulo, porém, não existe vida fácil. O mesmo potencial que está atraindo a GVT também fez a cabeça das concorrentes, em especial das de maior porte.
“Por ser o maior mercado do País, é possível obter na cidade um retorno mais rápido dos investimentos”, afirma o consultor Renato Pasquini, da americana Frost & Sullivan. Isso porque com menos quilômetros de rede as empresas podem cobrir um público mais amplo, com maior poder aquisitivo para bancar gastos com telefonia, internet e TV por assinatura. “O desafio comercial será conquistar clientes de residências que já são atendidos pelas concorrentes”, diz. Para se diferenciar, a GVT deve oferecer pacotes de internet com velocidade a partir de 50 Mbps. Entre os próximos planos de Genish e sua equipe estão também outros serviços especiais, como o acesso Wi-Fi gratuito para os seus clientes em locais públicos e até chamadas telefônicas pela rede de internet, a chamada VoIP.
Esse último recurso pode ser a forma para a empresa contornar a falta de uma oferta de telefonia celular em seus pacotes, algo que Embratel e TIM já possuem. “A GVT deve ficar atenta, porém, à velocidade do seu crescimento, para fazer os investimentos necessários e manter o mesmo padrão de qualidade que apresenta em outras regiões”, diz a consultora Marceli Passoni, da empresa britânica Informa Telecoms & Media. O sucesso da estratégia terá um grande peso simbólico. “A GVT não se contaminou com o mau momento dos franceses, que se comportam como a orquestra do Titanic, tocando sem perder a pose enquanto o navio afunda”, diz a fonte próxima à empresa.