Pense rápido: se seu celular não encontra sinal de rede para realizar uma ligação, para qual lugar você levaria o aparelho?
Se você respondeu que iria com ele até um espaço aberto e elevado, provavelmente conseguirá efetuar sua chamada. Se respondeu que iria até um lugar fechado dentro de um edifício, você possivelmente não receberá nem fará ligações telefônicas. E, caso seja personagem de “Salve Jorge”, sua resposta errada pode lhe custar a vida.
Esse destino mortal acometeu a personagem Raquel (Ana Beatriz Nogueira), apunhalada por uma seringa venenosa carregada pela vilã da trama, Livia Marine (Cláudia Raia). No capítulo, exibido no começo de março, a vítima é assassinada ao entrar num elevador em busca de sinal de rede para seu celular.
Essa é apenas uma das incoerências tecnológicas da produção global. Segundo Carlos Schaeffer, da Qualitest Tecnologia, quando o celular não consegue realizar chamadas, é preciso buscar posições mais favoráveis. “É bom ficar próximo de janelas e longe de grandes massas de concreto”, diz o diretor da empresa focada em redes de comunicação.
A situação, já óbvia para muitos usuários, não era evidente para a personagem. Sua algoz, ao contrário, não enfrenta problemas nas conexões móveis. Várias cenas mostram Marine conversando com seus capangas por videochamas de alta resolução em tablets ou computadores. Para Schaeffer, isso é possível nas atuais condições de rede do Brasil, embora seja improvável.
“O 3G permite essa facilidade de serviços, mas existem outros aspectos que acabam dificultando ou quase impedindo que você tenha essa qualidade”, diz o especialista. Segundo ele, o maior gargalo atualmente não ocorre na cobertura por antenas e estações de transmissão, existente em grandes centros urbanos, como nos cenários de “Salve Jorge”. O entrave está no crescimento da quantidade de smartphones no país e sua consequente sobrecarga.
“As operadoras observam que o simples uso de aplicativos carrega a rede e os usuários não conseguem falar [pelo celular]. O grande desafio delas é entender o quanto esses aplicativos estão ocupando”, afirma Schaeffer. Ele explica que há dois canais principais de conexão: dados e voz. Este dedicado a chamadas telefônicas, aquele dedicado a todo outro tipo de transmissão de informações, caso das videochamadas.
Dessa diferença surge o pagamento pela quantidade de tempo falado e pela quantidade de dados emitidos ou recebidos. O modelo tarifário é praticado pela maioria das operadoras no mundo, inclusive na Turquia. Joyce Yldrm é brasileira e mora em Ancara, capital e segunda maior cidade do país que também serve de plano de fundo para a novela das nove. Segundo sua experiência, conversar pelo celular com pessoas no Brasil não é difícil.
“Funciona bem e a conexão não cai. Uso o Skype por telefone e as ligações são boas. Em comparação ao Brasil, acho que as operadoras turcas são mais baratas e oferecem melhores serviços”, afirma. Usuária da Turcell, ela assina um plano de 30 liras turcas que lhe dá direito a 500 minutos de chamada, 500 SMS e 3G ilimitado. A moeda da Turquia tem aproximadamente o mesmo valor do real brasileiro.
Yldrm conta que já teve de fazer ligações da Capadócia, região a 273 Km de onde mora e onde reside parte do núcleo da ficção. “Liguei quando usava AVEA [outra operadora turca] e o sinal foi tão satisfatório quanto a Turcell, que uso atualmente”, diz ela. No caso, sua chamada foi por voz e não por vídeo, como a TV costuma mostrar. À parte a rede móvel, Yldrm ressalta a diferença de fuso horário entre os países, fator que não parece atrapalhar os personagens da novela.
Outro personagem que faz uso constante da tecnologia na novela é Sidney (Mussunzinho). O jovem sempre está munido de seu notebook nas cenas em que aparece. Conectado a redes sociais, ele narra acontecimentos da comunidade em que vive, como fizera Rene Silva. O rapaz é responsável pelo jornal online Voz da Comunidade, veículo que ganhou destaque durante a ocupação do Complexo do Alemão em 2010 por relatar o momento sob o olhar dos habitantes locais.