Uma diferença de € 3 milhões no faturamento fez a Telefônica do Brasil, que opera com a marca Vivo, ultrapassar, pela primeira vez, a matriz na Espanha como a principal fonte de receitas. A filial brasileira faturou € 3,263 bilhões, ou 23,07% do total, ao passo que a matriz foi responsável por 23,05% do resultado. Não é um caso isolado. Outras companhias europeias notam o mesmo fenômeno. O banco espanhol Santander lucrou € 1,2 bilhão no primeiro trimestre, dos quais o Brasil respondeu por 26% do total. A Fiat é outro caso. Em 2012, a montadora faturou € 9,26 bilhões em sua Itália natal e cerca de € 9,5 bilhões no Brasil. Fora da Europa, a Lojas Renner superou a sua ex-controladora, a americana J.C. Penney, em valor de mercado.
Enquanto a brasileira registra números fortes e planeja expansão orgânica, a americana, que detinha 98% das ações da varejista até 2005, amarga prejuízo crescente e vendas abaixo da expectativa. A justificativa para essa disparidade são as direções divergentes das economias. “A Espanha está atravessando recessão há sete anos, com a exceção de 2010, e o desemprego chega a 25% da força de trabalho, ao passo que o Brasil está crescendo e perto do pleno emprego”, diz o economista Victor Troster, graduado pela Universidade de São Paulo e atualmente concluindo seu doutorado na Espanha. “Nesse cenário, as empresas investem pouco na Espanha, pois o retorno no Brasil é melhor.” O mesmo raciocínio vale para outros países da Europa.
De acordo com Gilberto Braga, professor de economia do Ibmec, as multinacionais europeias consideram o País estratégico para seus negócios. “Devido às novas tecnologias e ao padrão brasileiro, que se aproxima muito do europeu, grandes grupos estão olhando o País como boa fonte de ganhos”, afirma Braga. Segundo ele, nos próximos três anos, com eventos como Copa do Mundo e Olimpíada, o Brasil seguirá como uma importante vitrine. Mesmo ganhando importância nos números globais, o desempenho da Telefônica brasileira piorou em 2013. O faturamento foi de R$ 8,56 bilhões no primeiro trimestre. Apesar do crescimento de 2,9% em reais ante o mesmo período de 2012, a receita em euros recuou 9,5%. O resultado refletiu o crescimento de 7% na receita líquida móvel e o recuo de 8,9% nas receitas do segmento fixo. O lucro líquido caiu 15,3%, para R$ 810,2 milhões.