02/11/2024

Dual Chip: tendência ou prática passageira?

Temos mais linhas de celular do que habitantes no Brasil. As ofertas intra rede das operadoras nacionais podem ser consideradas as maiores culpadas por esse fato. Quem é TIM, liga apenas para TIM, porque quando liga para Vivo paga os olhos da cara, e vice-versa. Fica mais econômico então a pessoa administrar dois, três e até quatro chips distintos do que encarar as tarifas de ligações para outras operadoras praticadas hoje no Brasil. Pelo menos em teoria.

O celular de dual chip entrou no mercado brasileiro pela porta dos fundos, ou melhor, pela ponte da amizade. Os famosos “xing lings” vieram como uma alternativa barata, prática e simples para as pessoas que carregavam vários aparelhos celulares. O problema desses aparelhos do mercado paralelo é que eles não são homologados pela Anatel, isso significa que eles não passam por rigorosos testes de funcionamento, portanto podem, ou não, funcionar corretamente. Muitas vezes as pessoas eram encontradas esbravejando insultos contra sua operadora e a culpa era do aparelhinho pirata que não tem nem a capacidade básica de recepcionar nossos sinais GSM já não tão fortes assim.

Mesmo com os celulares explodindo no ouvido, as pessoas começaram a preferir esses modelos paraguaios. Os principais fabricantes de aparelhos, que não gostam de ficar de fora de nada, viram nessa tendência uma oportunidade que estava sendo perdida e correram atrás do prejuízo para lançar aparelhos com dois ou mais chips SIM, mas esses sim, aprovados pela nossa querida Anatel. E assim surgiram vários modelinhos baratos, os modelos da Nokia, vários modelos da LG, Motorola e Samsung, com dois e até três SIM-cards, que caíram no gosto dos clientes.

Esses modelos com mais de um slot de chip, a princípio, eram vendidos no varejo e nas revendas, muitas vezes sem vínculo com as operadoras. Essas por sua vez, ainda estavam receosas em vender esses celulares, com medo de dividir o aparelho com a concorrência, um ato de certa forma egoísta. Da mesma forma que as fabricantes, acabaram se rendendo a tendência e hoje todas elas vendem em suas lojas próprias e virtuais modelos com dois chips, desbloqueados, sem medo de serem felizes.

E não é só o pobre coitado do usuário pré pago que quer usar dois chips simultaneamente. Com o crescimento da popularização dos smartphones e o acesso a internet 3G também nas mãos do povo, começaram a surgir a necessidade de aparelhos com mais recursos além do simples fato de caber dois chips. Os smartphones dual chip começaram tímidos, geralmente usando sistema Android ou arcaicas versões do Symbian (se é que ainda podemos chamar o Symbian de “smart”), com processadores fraquinhos, telas pequeninas, e preços de varejo. Mais uma vez foi observada uma nova tendência: os empresários que querem ter uma linha do trabalho e uma linha pessoal. Esse cara não se contenta com um smartphone simples, travado, sem memória, com teclado minúsculo, esse cara quer um smartphone top de linha, mas com duas linhas.

A tendência hoje são lançamentos de smartphones mais poderosos com dois slots de sim card, similares as suas versões single chip, para atender esse mercado exigente. Quem saiu na frente nessa corrida foi a Samsung, com o lançamento do S Duos e também do Gran Duos. Nesse quesito acredito que a Nokia ainda fique pra trás, de novo, já que fazer o sistema operacional Windows Phone funcionar com dois chips deve demorar algum tempo. Apple e Blackberry não se misturam com o populacho, então não esperem um iPhone 6 Duos.

Pergunto no título desse artigo se o dual chip SIM é uma prática passageira. Como vimos até aqui, a tendência é que isso venha para ficar. Mas também é válido se observar uma outra tendência que vem correndo por fora, que é o uso da internet como comunicação universal: se todos tivermos o WhatsApp, não importa de qual operadora você é. Quando todo mundo tiver seu smartphone e quando o 3G/4G estiver suficientemente bom e barato para todos conseguirem bancar, a tendência é que você acabe priorizando um chip que te ofereça um bom pacote de dados com um preço justo em detrimento aos 4 chips com recargas diferentes e promoções confusas cheias de restrições.

Mas enquanto não temos nosso HSPA/LTE funcionando de vento em popa, com cobertura em 100% dos lugares em que vivemos e viajamos, vamos continuar observando a demanda do dual SIM-card a crescer cada vez mais. Lá no futuro talvez veremos essa curva ascendente voltar a cair, mas nesse meio tempo fica em aberto as oportunidades para as fabricantes lançarem novos modelos, para os operadoras garantirem pelo menos um chipzinho seu lá entre os escolhidos pelo cliente e também para os desenvolvedores/programadores para criar serviços e aplicativos voltados para esse mercado.
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