Passada a euforia com o anúncio de Zeinal Bava para a presidência da Oi, o mercado avalia os desafios que o novo gestor terá pela frente para acelerar os investimentos, melhorar a qualidade dos serviços e aumentar a participação de mercado em telefonia móvel, internet e TV por assinatura. Para alguns consultores todos esses desafios passam pela necessidade de reduzir dividendos e ampliar investimentos na companhia. Segundo fontes, o caminho de consenso com acionistas já está em andamento. Mas não deverá acontecer sem embates, afirma o consultor Virgilio Freire, ex-presidente das empresas Vesper e Lucent.
“Como em todas as empresas, os acionistas querem o máximo de resultados. Acionistas como a Andrade Gutierrez e Carlos Jereissati, do Grupo La Fonte, vão continuar dispostos a ganhar com uma empresa binacional surgindo, uma vez que a fusão será o resultado final de tudo isso. No entanto, Zeinal Bava virá com toda a expertise da Portugal Telecom em tecnologia, qualidade e modernização de sistemas, que exigem investimentos. Para se chegar a um consenso que seja bom para ambos, certamente gestor e acionistas vão bater de frente”, afirma Freire, acrescentando que possivelmente o caminho para a Portugal Telecom fortalecer suas decisões pode estar no aumento de sua participação indireta na La Fonte e na Andrade Gutierrez.
Na avaliação de uma fonte do setor, o fato de a Portugal Telecom ter levado a empresa em seu país a patamares operacionais de excelência mostra quem dará as cartas na Oi. Segundo o especialista, a proposta da empresa é de não aumentar sua dívida líquida (hoje em R$ 25 bilhões) levando seu índice de alavancagem em 3,1 vezes o Ebitda.
“Obviamente, Zeinal Bava vai optar pelo aumento do investimento. Porque o que levou a empresa à situação atual foi justamente essa política muito forte de dividendos. Certamente controladores sempre querem dividendos, mas a Oi não pode mais olhar apenas para esse lado. A telefonia fixa, onde a operadora lidera, é um mercado que está morrendo. É preciso investir em outras frentes e estes caminhos a Portugal Telecom sabe como chegar”, destaca o especialista.
Para Virgilio Freire, a gestão de Bava à frente da Oi será importante, por exemplo, para mudar o perfil da operadora brasileira em telefonia móvel.
“Esse é um problema que não é exclusivo da Oi. As operadoras de um modo geral, brigam por número de clientes enquanto a chamada renda média é baixa. O grande volume de clientes em telefonia móvel é pré-pago e o gasto por usuário equivale a 50% do que gasta um cliente pós-pago. Falta investimento em rede e sobra campanha para vender telefones no pré-pago. De novo, esbarramos na necessidade de investimentos. O 4G, por aqui, está longe de ser realidade enquanto em Portugal, via Portugal Telecom, funciona plenamente. Essas disparidades são desafios que não se resolvem facilmente”, diz o especialista.
Para Ricardo Correa, diretor da Ativa Corretora, a entrada de Bava na Oi acende uma luz no fim do túnel após a crise de confiança vivida desde a saída de Francisco Valim do comando da empresa, em janeiro, retirando o peso das incertezas do mercado em relação ao atingimento das metas do plano estratégico da Oi, elaborado ano passado.
“ Contudo, o processo será árduo, tendo em vista a situação do grupo, principalmente no front financeiro, e sua grande alavancagem, que põe em risco distribuição dos dividendos prometidos pela companhia. Dessa forma, ressaltamos que ainda é cedo para fazermos uma avaliação positiva sobre a Oi”, diz Correa.