Com uma reunião da diretoria da Telecom Italia prevista para o próximo dia 19, as especulações em torno da companhia e suas subsidiárias latino-americanas, sobretudo a TIM Brasil, começam a ganhar força. Duas empresas de análise divulgaram relatórios que indicam caminhos diferentes para a companhia italiana: a JP Morgan recomenda a venda da TIM como “opção a ser considerada”, enquanto a Bank of America/Merrill Lynch analisa que a transação “seria difícil (e demorada)”, embora também considere a possibilidade. Os compradores seriam justamente os maiores concorrentes: Grupo América Móvil (que controla Claro, Net Serviços e Embratel), Oi/Portugal Telecom e Telefônica/Vivo.
A análise da JP Morgan acredita que, pela sobreposição das operações móveis, “as autoridades antitruste talvez aceitem que a TIM Brasil seja dividida e adquirida por dois ou mais players locais, já que seria possível desenhar a operação de forma a minimizar a concentração de market share”. A consultoria ainda especula que as sinergias da fusão com duas operadoras brasileiras “deveriam ser significantes, com potenciais reduções de custos graças à sobreposição do footprint dos players existentes, assim como uma diminuição na competição”.
A JP Morgan diz que as margens de EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) aumentariam em cinco pontos percentuais se a TIM fosse comprada pela Vivo e a América Móvil, o que geraria R$ 13 bilhões em “potenciais sinergias para os três players”. A estimativa é alta porque está alinhada com outros negócios do mercado de telecomunicações internacional, como a aquisição da ePlus pela Telefonica Deutschland.
Existe um problema além das questões comerciais que as autoridades teriam de se preocupar: uma possível concentração de espectro. Segundo a JP Morgan, a TIM possui um total de 100 MHz no País (na soma de frequências) e tudo isso seria devolvido à Anatel caso houvesse mesmo a compra por parte da Vivo e da AMX. Por outro lado, se a interessada fosse a Oi, parte do espectro seria retido, já que a operadora da Portugal Telecom conta com cerca de 10 MHz a 25 MHz abaixo do limite, dependendo da região. Ainda assim, a análise diz que é possível contornar esse problema com o investimento em infraestrutura.
A consideração de venda ou não da TIM ainda dependeria da reunião do board da tele italiana. Este será o momento em que ela deverá decidir pela mudança de controle da Telco, que é a maior acionista da companhia (22,4%) e a controla, o que poderia acionar os direitos de tag-along da TIM na Bovespa. A operadora é listada nas regras do Novo Mercado da Bovespa, o que garante 100% de direitos para todos os acionistas e a mandatória oferta para todos os minoritários em caso de venda da empresa. Mas a análise explica que, em 2009, a Comissão de Valores Imobiliários (CVM) descartou que a entrada da Telefónica como maior acionista da Telco acionasse os direitos de tag-along, “apesar de ter sido uma votação acirrada entre os diretores da CVM”, sugerindo que uma nova votação poderia ter resultado diferente. Alia-se a isso o fato de que a CVM já teria novos diretores votantes (em relação a 2009) quando uma eventual venda da TIM fosse analisada.
Já a Merrill Lynch enxerga a situação de forma diferente. A empresa observa que a venda das operações no Brasil só aconteceria se todas as alternativas estivessem esgotadas, já que é um dos principais ativos da Telecom Italia (argumento inclusive sustentado pela diretoria italiana em agosto). A análise é que as três concorrentes no mercado brasileiro “poderiam ser potenciais compradoras, entretanto, todas com diferentes prós e contras”. Na visão da consultoria, a Vivo concentraria o maior market share (55%), o que traria dificuldades na aprovação da compra. Embora com a AMX a concentração seria menor (51%), a Merrill Lynch lembra que a Telefónica, que detém uma fatia considerável na Telecom Italia, iria se opor firmemente”. A Oi teria a menor participação (45%), mas precisaria se recuperar financeiramente e aportar capital. Não há consideração de divisão da TIM por mais de um player brasileiro.
O futuro da Telecom Italia ainda se encaixa nesse cenário. A Merrill Lynch descarta a Telefónica e a América Móvil como potenciais compradores do grupo italiano por conta de autoridades antitruste. A norte-americana AT&T, por sua vez, até poderia se interessar (como já fizera em 2007, quando foi bloqueada pela preocupação da diretoria por um controle não-italiano), mas a empresa deve acabar optando por investir na britânica Vodafone. O cenário mais provável seria a de que o magnata egípcio Naguib Sawiris adquirisse 10% da Telecom Italia, aliviando os problemas de dívidas da companhia.