Nesta nova reportagem especial analisamos a maior operadora de telefonia do mundo e as suas chances de entrar no mercado brasileiro de telecomunicações.
Em outubro, com a aprovação do novo marco das telecomunicações, semanas após a divulgação do agravamento da crise financeiro dentro da Oi, surgiram vários rumores sobre empresas querendo adquirir as operações da operadora.
Entre os grandes players internacionais interessados no negócio estaria a China Mobile. Fontes internas indicam que a gigante chinesa tem interesse e pode estar considerando a compra da Oi, o que incluiria até mesmo uma parceria com a Huawei. Se isto é um boato ou não, a verdade é que desde 2017 a empresa chinesa possui um escritório em São Paulo, com o objetivo de não apenas estudar oportunidades para futuros negócios locais, mas também em toda a América Latina.
Tanto é que em agosto a companhia enviou um ofício para a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) solicitando instruções de como uma empresa estrangeira poderia estabelecer um provedor de telecomunicações no país.
Em resposta, a Anatel enviou um passo a passo detalhado afirmando que a chinesa precisaria estabelecer duas empresas no país, adquirir faixas de frequência, obter registros em órgãos, cumprir requisitos regulatórios e pagar taxas de licença. O próprio documento da agência orienta que a China Mobile poderia pular algumas dessas etapas ao adquirir uma operadora já operacional.
NOTÍCIAS SOBRE A CHINA MOBILE
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Hoje, o mercado de telefonia no Brasil é dominado por companhias estrangeiras, sendo liderado pela espanhola Telefônica (Vivo), pela mexicana América Móvil (Claro) e pela italiana Telecom Italia (TIM).
A venda da Oi para qualquer uma das três maiores operadoras brasileiras não seria benéfica sob o ponto de vista consumidor, pois, haveria uma concentração do mercado, com diminuição da concorrência, o que poderia gerar uma precarização na qualidade dos serviços prestados, bem como uma política de aumento de preços.
No entanto, a manutenção das operações da Oi, seja a partir de sua própria recuperação ou a venda para um novo grupo empresarial, seria muito bem-vinda. A dúvida é se a China Mobile é a melhor opção.
China Mobile, é mesmo tudo isso?
Desde 1994, o governo chinês fornece serviços de telecomunicações para o país por meio da empresa pública China Telecom. No final dos anos de 1990, com objetivo de dar mais eficiência operacional para a companhia e reduzir o monopólio, foi aprovado a fragmentação do negócio em três partes.
A telefonia fixa ficaria com a divisão que manteria o nome China Telecom, a China Satcom seria responsável pelas atividades de satélites em órbita da Terra e a China Mobile pelo serviço móvel.
Os recentes avanços tecnológicos, o aumento do poder de compra da classe média chinesa e a abertura do mercado chinês a investidores estrangeiros impulsionaram os negócios da China Mobile. Hoje, a estatal mantém negócios móveis de voz e dados, banda larga fixa e outros serviços de informação e comunicação.
A empresa fornece serviços na China Continental e na região administrativa especial de Hong Kong. Ele fornece ao público a rede 4G baseada nos padrões TDD / FDD LTE, a rede 3G no padrão TD-SCDMA e rede 2G em GSM.
Em outubro, a China Mobile detinha uma base de 943,6 milhões de clientes, sendo que 79% desse total são assinantes do serviço de 4G. Isso a transforma na maior operadora de telefonia do mundo em número de consumidores, uma base de 4 vezes maior do existe atualmente no Brasil.
Muito do seu crescimento foi em decorrência do investimento na expansão dos serviços de telefonia em áreas rurais. Hoje, praticamente 60% do mercado chinês é pertencente à operadora.
ENTENDA A CRISE FINANCEIRA DA OI
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Nos 3 primeiros trimestres de 2019, a empresa registrou uma receita de serviços de RMB 513 bilhões (R$ 308,38 bilhões) e um lucro líquido de RMB 81,8 bilhões (R$ 49,17 bilhões).
Recentemente, a companhia recebeu os elogios do Institutional Investor, como uma das empresas mais honradas da Ásia. Ela também foi agraciada no “9º Prêmio de Excelência Asiática 2019”, realizado pela Governança Corporativa da Ásia e foi nomeada como uma das “100 melhores marcas mais poderosas do BRANDZ ™”, pela Millward Brown e Financial Times, estando pelo décimo terceiro ano consecutivo ocupando a 27ª posição entre todas as organizações consideradas.
Além disso, ela está bem avançada no mercado 5G. Neste mês, a China Mobile lançou sua rede 5G em 50 cidades da China, entre elas Pequim, Xangai e Shenzhen. Segundo o presidente da empresa, Yang Jie, foram mais de 50 mil estações bases implantadas para oferecer o novo serviço.
A operadora pretende investir RMB 20 bilhões (R$ 11,98 bilhões) e alcançar 70 milhões de usuários de 5G até o final de 2020.
Seu maior apelo para o 5G são os preços baixos, custando em torno de RMB 128 (em torno de R$ 80). Já os planos com demanda maior por dados têm preços semelhantes aos do 4G, que custam RMB 588 (R$ 353).
As operações pelo mundo
Atualmente, a maior parte dos negócios da China Mobile ocorre no mercado chinês, mas ela também está presente em outros países.
Em 2008, a companhia comprou a operadora Paktel, posteriormente renomeada como Zong, e conseguiu em apenas uma década multiplicar por vinte a participação no mercado do Paquistão. Hoje, ela controla 20% do mercado do país.
No entanto, o mesmo sucesso não foi conquistado em Mianmar, que faz divisa com a China e a Tailândia. Em 2013, após uma aliança com a inglesa Vodafone, a China Mobile esperava conseguir uma licença de operadora de telefonia móvel, mas decidiu recuar, pois os benefícios não pareciam compensar o investimento.
Já nos Estados Unidos, a China Mobile tem encontrado resistência desde 2011 para fornecer serviços de telecomunicações no país. O governo de Donald Trump tem argumentado que empresas chinesas operando nos EUA poderiam conduzir atividades que comprometem não apenas a segurança nacional, mas a aplicação das leis americanas. Isso ocorre porque existe uma legislação na China que obriga as empresas a ajudarem o governo e as forças armadas em assuntos de inteligência.
Entretanto, ao trazer seu escritório para São Paulo, a China Mobile demonstra que o fracasso em Mianmar e nos Estados Unidos não minaram seus planos de expandir seus negócios pelo mundo.
AS ESPECULAÇÕES DA VENDA DA OI
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No Brasil, em 2017, Juarez Quadros, ex-presidente da Anatel, chegou a afirmar que a China Mobile tinha interesse em investir na Oi, quando a mesma já estava em recuperação judicial. De lá para cá, o negócio esfriou, principalmente, porque a chinesa estaria interessada apenas no setor móvel, deixando a telefonia fixa de lado, para que fosse comprada por outra empresa.
Além disso, a chinesa queria transferir a dívida da Oi com a Anatel e outros credores para o serviço fixo, deixando que os acionistas resolvessem a situação, para que China Mobile começasse do zero o negócio mobile. Tal ação poderia comprometer a isonomia do mercado das teles.
No entanto, com as recentes mudanças na legislação, como o fim da restrição a venda de ativos, e o aprofundamento das dívidas da operadora, um novo acordo poderia ser selado. Isso permitiria que a chinesa iniciasse suas operações com mais rapidez, com uma infraestrutura avançada logo de início, sem precisar passar por toda a burocracia brasileira para iniciar seu negócio.
Para a Anatel, a venda da Oi seria interessante, pois afasta o risco de intervenção do Estado na operadora, caso ela vá à falência, além de manter a competitividade no setor, com no mínimo quatro grandes players de telefonia no país.
Especialistas antecipam um crescimento significativo nos negócios assim que o Brasil começar a implantar sua infraestrutura de rede 5G, o que é visto como um ativo atraente para grandes companhias, inclusive a China Mobile.
Ao contrário da postura de Trump, em recente visita na China, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que pretende trabalhar para reduzir a burocracia para investimentos chineses no país e que não tem intenção de restringir as atividades de empresas, como o caso da Huawei.
Entretanto, diante de tantos boatos e especulações, a única certeza por enquanto é que a maior operadora de telefonia do mundo tem um real interesse em fazer negócios com o Brasil, mas ainda segue sem previsão de licença para que efetivamente inicie suas atividades no país.