Interlocutores do governo dizem que o ministro está se vitimizando para não deixar o cargo.
Neste domingo, 28 de março, o Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, acusou a senadora Kátia Abreu (PDT-TO) de fazer lobby na questão do 5G.
De acordo com Araújo, em 4 de março passado, ele recebeu a senadora para um almoço, no qual teve uma conversa cortês, mas que pouco ou nada se falou sobre a questão das vacinas para a Covid-19.
Ele afirmou que ao final do almoço, ela teria feito um lobby a favor da China nas futuras redes 5G do país.
“Ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será o rei do Senado”, disse a senadora, segundo o ministro.
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Na mesma publicação, ele afirmou que desconsiderou o pedido, com o argumento de que o assunto não seria de sua competência.
“Desconsiderei a sugestão inclusive porque o tema 5G depende do Ministério das Comunicações e do próprio Presidente da República, a quem compete a decisão última na matéria”, afirmou.
Kátia Abreu é presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado.
Em nota, ela disse que durante o almoço defendeu um leilão sem vetos ou restrições políticas e que “devem prevalecer os critérios de preço e qualidade”.
Ela disse ainda que o banimento de empresas chinesas no 5G poderia gerar prejuízos na relação entre a China e Brasil, principalmente no agronegócio.
“Se um chanceler age dessa forma marginal com a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado da República de seu próprio país, com explícita compulsão belicosa, isso prova definitivamente que ele está à margem de qualquer possibilidade de liderar a diplomacia brasileira. Temos de livrar a diplomacia do Brasil de seu desvio marginal”, disse a senadora.
Vários senadores utilizam o Twitter para demonstrar apoio à senadora.
Ministro em queda
Nos últimos dias, Ernesto Araújo está sob pressão para deixar o cargo.
A Câmara e o Senado acusam o Itamaraty de adotar uma política “arrogante”, “belicosa” e “inoperante” para com os outros países, o que tem atrasado a importação de vacinas e insumos para combater a pandemia.
A acusação para com a senadora foi vista como uma medida desesperada do ministro para permanecer no cargo.
Ele quer defender a narrativa que o motivo da perda de apoio do Congresso se deve à questão da participação chinesa no 5G, e não o atraso no fornecimento de vacinas.
Interlocutores do governo dizem que Araújo está se vitimizando e tentando ter uma saída “honrosa” do Itamaraty.
Aliados do presidente da República, Jair Bolsonaro, também veem a postura do ministro como insustentável.
Além disso, a acusação também amplia o clima de desunião entre os poderes, principalmente em um cenário de aprofundamento da pandemia no país.
[ATUALIZAÇÃO – 29/03/2021 13h30]:
Após a repercussão negativa ao ataque à senadora Kátia Abreu, Ernesto Araújo anunciou a subordinados que pretende apresentar na tarde desta segunda-feira, 29 de março, o pedido de demissão ao presidente Jair Bolsonaro.
A informação foi confirmada pelo veículos Globo e UOL.
Com informações de G1.