Confira os reflexos da crise sanitária no acesso aos serviços de telecomunicações e nos resultados financeiros das operadoras.
De forma geral, a emergência da pandemia da Covid-19 gerou inúmeras incertezas em diferentes segmentos da economia, inclusive no setor de telecomunicações. Para frear o avanço da doença, medidas de isolamento social (e até de lockdown) foram adotadas em todo o país, o que acabou contribuindo para o aumento das dificuldades financeiras de grande parte dos brasileiros.
Indústrias pararam, estabelecimentos comerciais foram fechados e grande parte da população teve que ficar reclusa em suas casas. Isso acabou gerando desemprego, endividamento, restrição ao crédito, entre outros malefícios.
Apesar do cenário de crise, as principais operadoras do país se comprometeram junto à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a manter a manutenção da qualidade dos serviços de telecom, o atendimento aos consumidores, assim como garantir a segurança dos funcionários. Para manter a população conectada, as operadoras adotaram novas e flexíveis políticas de cobrança, reforçaram as redes e ampliaram as opções de entretenimento doméstico.
Desde o primeiro caso confirmado do novo coronavírus no Brasil, em 26 de fevereiro de 2020, o segundo trimestre de 2020 (ainda na 1ª onda) foi o mais impactante para os negócios, no qual as empresas precisaram fechar lojas e prédios e migrar às pressas os funcionários para o regime home office, o que acabou alterando o tráfego de rede no país do corporativo para o residencial.
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A banda larga fixa, por exemplo, um dos serviços mais demandados durante a pandemia, teve um crescimento de 1,1% entre março e abril do ano passado. O serviço manteve o ritmo de crescimento nos meses seguintes (puxado principalmente pelo crescimento na oferta de fibra), tendo uma queda expressiva no número de acessos somente em junho deste ano (-3,15%).
Essa redução na internet fixa foi mais sentida no mercado de pequenos provedores, enquanto as grandes operadoras mantiveram os números estáveis. Uma explicação para esta queda talvez seja por uma subnotificação no número de acessos pelas pequenas empresas. Os provedores regionais não são obrigados a reportar esses dados à Anatel.
No serviço móvel, as operadoras culpam a pandemia pela redução no número de clientes no pré-pago. Porém, o segmento já vinha caindo nos anos anteriores à Covid-19. Na verdade, o serviço apresentou uma tendência de crescimento constante a partir de outubro de 2020.
De forma geral, as empresas ressaltam que o auxílio emergencial oferecido para consumidores de baixa renda, por parte do Governo Federal, ajudou a amenizar a queda do setor móvel pré-pago.
Já o pós-pago manteve o crescimento dos últimos anos. Apesar de uma leve queda nos meses de abril e maio de 2020, durante a pandemia o segmento manteve adições líquidas de clientes com números superiores a 1% ao mês. Esse movimento foi puxado pelas ofertas das operadoras para migrar os clientes pré para os planos controle e do controle para o pós.
Durante boa parte da pandemia, a TV Paga tem mantido o ritmo lento (mas constante) de queda no número de acessos que vem sendo apresentado desde 2014. Com cinemas, teatros e casas de show fechadas, a TV tornou-se uma das principais fontes de entretenimento doméstico. Em abril de 2020, por exemplo, o número de clientes chegou a ter um saldo positivo (de +0,7%) em relação ao mês anterior, algo que não era visto desde junho de 2018.
Porém, nos outros meses de pandemia, o saldo se manteve negativo, com a maior queda sendo registrada em novembro de 2020 (-0,8%) e em março de 2021 (-1,30%), em relação aos meses anteriores.
Reclamações
O aumento repentino na demanda pelos serviços de telecom também veio acompanhado com o crescimento no número de reclamações recebidas pela Anatel. Desde 2015, a quantidade de queixas apresentava uma tendência de queda, porém, houveram picos em março de 2020 e março de 2021, respectivamente.
O serviço reclamado que apresentou o maior salto foi o de banda larga, que teve um aumento de 34,3% entre fevereiro e março do ano passado. A internet fixa voltou a ter um forte crescimento no número de queixas em março de 2021, +21,8% em relação ao mês anterior.
No serviço móvel pré-pago, foram os meses de abril de 2020 (+14,4%), julho de 2020 (+19,40%), dezembro de 2020 (+9,0%) e março de 2021 (+9,5%) que tiveram o maior número de queixas. No pós-pago, registrou-se crescimento nas reclamações em março (+7,38%), abril (+3,63%), maio (+5,1%), outubro (+6,39%) do ano passado, e +13,17% em março e +5,27% em maio deste ano.
Já na TV por assinatura, o serviço teve aumento no número de reclamações apenas nos três primeiros meses de pandemia, crescimento de 9,7% em março, 7,8% em abril e 1,7% em maio. Nos meses seguintes, permaneceu o ritmo de queda no número de queixas.
Ao final do primeiro semestre deste ano, o número total de reclamações já atingia patamares próximos ao do que eram registrados em 2015.
Vivo
A operadora Vivo (VIVT3) que vinha mantendo um crescimento em trimestres anteriores, apresentou queda na receita líquida total de serviços na comparação trimestral de -4,85% no primeiro trimestre do ano passado. Nos meses seguintes, a empresa voltou a ter crescimento nas receitas, voltando a cair -3,07% nos três primeiros meses deste ano (puxado pela segunda onda da pandemia).
Já no lucro EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) chegou a ter um crescimento de 12,84% no quatro trimestre de 2020, mas caindo -8,65% e -5,14% nos trimestres seguintes.
A empresa ressalta que conseguiu compensar as perdas fazendo um bom controle de custos, como, por exemplo, na digitalização e automação de processos. A Vivo também ressalta que o governo ajudou as empresas, adiando o pagamento de taxas regulatórias, como a Fistel e a Condecine, por exemplo.
No geral, a operadora manteve a taxa de leve redução no número de clientes nos serviços de banda larga e TV por assinatura dos últimos anos. Porém, as receitas de fibra e IPTV continuaram a crescer mesmo durante o período pandêmico.
Por outro lado, o início da pandemia interrompeu temporariamente a sequência de crescimento no setor móvel pós-pago da Vivo, com o segmento recuperando a partir de julho de 2020. No pré-pago, houve uma tendência de alta, com destaque para o mês de setembro de 2020, que teve um crescimento de 2,07%. Em fevereiro deste ano, a sequência de alta foi interrompida novamente, mas retomou a partir de maio. A operadora é líder de market share na telefonia celular.
“A pandemia do Covid-19 tornou ainda mais latente a demanda por um sinal de qualidade e por amplitude de cobertura, atributos nos quais a Vivo se destaca”, afirmou a Vivo no relatório financeiro do primeiro trimestre deste ano.
Claro
No caso da Claro, apesar dos vários desafios impostos pelo cenário de pandemia, a operadora manteve uma tendência de crescimento de receitas e lucros EBITDA ao longo de 2020. Porém, teve uma importante redução nas receitas nos últimos dois trimestres (-3,09% em 1T21 e -0,18% em 2T21), motivado principalmente pela nova onda da pandemia de Covid-19, com números recordes de infecções e mortes, assim como o reforço no isolamento social.
Segundo a Claro, durante a pandemia a operadora viu a receita de aparelhos cair (assim como as outras operadoras), porém também teve uma redução de custos administrativos, em função do fechamento de lojas e prédios, com os colaboradores adotando trabalho remoto.
Na TV por assinatura, serviço que a operadora é líder, manteve-se a tendência de queda, com uma leve aceleração nesta redução a partir de janeiro deste ano. Já na banda larga (que a empresa também lidera o market share), a Claro vinha apresentando crescimento desde o início da pandemia, mas vem registrando queda no número de acessos a partir de dezembro de 2020.
No móvel, a empresa tem mantido o crescimento desde outubro de 2020, principalmente pelo procedimento de portabilidade de clientes de outras operadoras. Porém, é no pós que a empresa tem mantido as maiores taxas, chegando a registrar 11,47% de crescimento entre os meses de janeiro e fevereiro deste ano. Somente no primeiro semestre deste ano, a empresa conquistou 7,6 milhões de novos usuários de celular.
“A Administração segue focada em adotar as medidas necessárias para minimizar os efeitos da pandemia do Covid-19 nos negócios, com o objetivo de manter a saúde financeira e a liquidez da Companhia”, disse a Claro durante a divulgação dos resultados do primeiro trimestre de 2021.
TIM
A TIM (TIMS3) foi a que teve a evolução das receitas mais irregular, chegando a cair 8,1% no primeiro trimestre de 2020, em relação ao trimestre anterior, e crescimento de 10,0% no terceiro trimestre do ano passado.
Ao final de março de 2020, a operadora TIM fechou 100% das lojas físicas, transferindo as equipes para o trabalho remoto (incluindo o call center) e passando a oferecer canais digitais para atendimento aos clientes. Além disso, diante das incertezas, o Conselho de Administração da operadora aprovou a captação de R$ 1 bilhão (sendo que pouco mais da metade foi realmente captado), em abril de 2020, como medida de prevenção contra os impactos econômicos da pandemia.
A empresa afirma que não reduziu o quadro de funcionários e adotou uso de férias coletivas e suspensão de contratos para manter a renda dos funcionários, porém reduzindo o impacto financeiro da folha de pessoal.
No celular pré-pago, a operadora vem perdendo clientes desde o início da pandemia, com um leve crescimento entre os meses de novembro de 2020 e janeiro de 2021. A queda no pré-pago é explicada pela operadora como resultado das restrições de renda dos consumidores e do fechamento de grande parte dos canais físicos de recarga. Porém, essa redução já vinha ocorrendo antes da pandemia.
Para manter os clientes com linhas pós, a TIM afirma que ofereceu a partir de março do ano passado condições especiais de pagamentos, como a suspensão da cobrança de multa por atraso (medida esta que foi retomada em agosto de 2020).
O segmento pós vem apresentado crescimento (com destaque para o mês de janeiro de 2021), mas com exceção dos meses de abril, maio, junho e novembro do ano passado, e abril e junho deste ano, que apresentaram saldo negativo.
Na banda larga, apesar do crescimento tímido ao longo da pandemia, a TIM foi ultrapassada pela regional Brisanet em número de clientes, em maio deste ano.
“Com os impactos provocados pela pandemia de Covid-19, diversas ações foram tomadas pela TIM para garantir a qualidade e disponibilidade dos serviços oferecidos aos clientes. Essas ações foram possíveis, não só pelo foco e capacidade de nossos colaboradores, mas também pelas iniciativas que temos tomado ao longo dos anos, buscando fortalecer nosso posicionamento perante o mercado através da diferenciação, com o objetivo de proporcionar uma experiência superior”, ressaltou a TIM durante a apresentação de resultados do segundo trimestre de 2020.
Oi
Indo contra a tendência de queda do setor, a Oi é a única entre as grandes operadoras que vem registrando crescimento no serviço de TV por assinatura. A operadora chegou a registrar índices de +2,99% em julho, 3,18% em novembro e 2,78% em outubro do ano passado.
Na banda larga, o atual carro-chefe da empresa, o serviço tem mantido crescimento gradual desde julho de 2020, com a sequência sendo interrompida apenas em janeiro deste ano. A empresa acaba de anunciar que atingiu a marca de 3 milhões de assinantes no Oi Fibra. Isso significa que a empresa dobrou o número de usuários em apenas 12 meses, além de ultrapassar a quantidade de clientes na tecnologia de cobre.
No móvel pré-pago, os destaques ficaram para os meses de dezembro de 2020, que houve uma redução de -2,25% na base de clientes, e em fevereiro, com crescimento de 1,74% de acessos. O segmento vem acelerando desde fevereiro.
Já no pós-pago, a empresa apresentou crescimento durante boa parte do período de pandemia, principalmente em dezembro passado, alta de 4,40%.
No caso da Oi, os efeitos da pandemia e as políticas de confinamento geraram uma tendência de queda nas receitas, mas que não foi maior devido a estratégia da empresa de vender ativos, assim como o crescimento nos segmentos de fibra e móvel pós-pago.
“A queda mais acelerada se deu, principalmente, pelos efeitos da pandemia de Covid-19 e as políticas de confinamento adotadas no Brasil, mas reflete também a estratégia da Oi de desinvestimento nos serviços legados (cobre e DTH) nos segmentos Residencial e B2B, sendo parcialmente compensada pela expansão dos serviços com perfil de crescimento de receita – Fibra, TI e pós pago”, explica a operadora durante a apresentação de resultados no segundo trimestre do ano passado.
Durante a pandemia, a empresa concluiu a venda da unidade de torres (R$ 1,1 bilhão) e de Data Centers (R$ 300 milhões). Vale lembrar que a companhia já tinha feito outros desinvestimentos, como a venda da participação na operadora angolana Unitel.
Mesmo assim, a operadora ainda mantém uma dívida bilionária que vem crescendo ao longo do último ano. A dívida líquida da Oi em março de 2020 era de R$ 18,1 bilhões. Ao final de junho deste ano, ela já estava em R$ 25,7 bilhões.
Com informações da Anatel e das Relações com Investidores das empresas Vivo, Claro, TIM e Oi.