A Telefónica, companhia de telecomunicações controladora da marca Vivo no Brasil, divulgou na última quinta-feira (23), seu relatório de atuação na Venezuela, país liderado por Nicolás Maduro. De acordo com o documento, no último ano a empresa recebeu mais de 1,5 milhão de pedidos para “grampear” — termo popularmente usado para se referir à interceptação de informações — linhas de telefones de seus clientes e conexões com a rede de internet móvel e banda larga.
Segundo informações do relatório de transparência, o total de 1,5 milhão de linhas foram monitoradas pelo governo venezuelano no período de seis anos, correspondendo a 20% do número de clientes da operadora no país.
Além de instituições governamentais, outras autoridades também requereram que Telefónica interceptasse os telefones de seus clientes, como o Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin), Ministério Público, etc.
Como de praxe para esse tipo de revelação, não há detalhes sobre os porquês das entidades terem solicitado o monitoramento contínuo de conversas dos cidadãos venezuelanos, no entanto, ONGs locais apontam para “um programa de vigilância em massa por meio da interceptação de comunicações e captura de metadados”.
Interesse nos dados
Além dos grampos telefônicos, a tele também revela pedidos entre os anos de 2017 e 2021 para coletar “informações pessoais, localização, endereços IP, número de mensagens de texto recebidas e enviadas e chamadas recebidas e efetuadas”.
Embora o foco do documento de transparência seja evidenciar o interesse público em dados sigilosos, o relatório também mostra que o país trabalhou para reduzir a quantidade de notícias divulgadas pela oposição à Maduro nas mídias sociais.
Ao que tudo indica, esse trabalho de suposta censura à imprensa aconteceu como iniciativa da Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel), órgão da Venezuela equivalente à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), no Brasil.
Inúmeras entidades da sociedade civil, jornalistas e outros profissionais criticaram a coleta dos dados como parte de medidas restritivas pelo governo.