Satélite espacial que atende o Brasil precisa lidar com planos de Elon Musk, dono da SpaceX, que detém a Starlink, empresa de internet via satélite. Na noite desta quarta-feira 26, está programado o envio ao espaço do maior e mais avançado satélite de telecomunicações já construído. Com o nome de Visat-3 Américas, ele fornecerá cobertura de internet de banda larga em todo o continente americano, incluindo o Brasil.
Para transportá-lo, será utilizado o foguete comercial mais poderoso em operação, o Falcon Heavy, desenvolvido pela SpaceX de Elon Musk. O lançamento está agendado para acontecer às 20h24 (horário de Brasília) no Centro Espacial Kennedy da Nasa.
As constelações de satélites estão se tornando mais poderosas
A ViaSat-3, que é composta por três satélites de banda Ka de ultra capacidade, lançou seu primeiro satélite. O segundo satélite deve ser lançado ainda este ano para fornecer serviços para a Europa, Oriente Médio e África (Emea), enquanto o terceiro será lançado em 2024 para atender a região Ásia-Pacífico (Apac).
Embora a ViaSat-3 tenha um número menor de satélites em comparação com a constelação da Starlink da SpaceX, que atualmente tem 3.700 satélites em órbita e continua a crescer a cada mês, a ViaSat-3 será capaz de cobrir todos os continentes e as principais rotas aéreas e marítimas do mundo.
Qual a diferença entre a Starlink e a Viasat?
As tecnologias utilizadas pela Starlink e pela Viasat são bastante distintas. A Viasat utiliza satélites geoestacionários, que são muito grandes e orbitam a uma altitude superior a 35.000 km em relação à Terra, conhecida como órbita geossíncrona (GEO). Isso permite que a Viasat cubra grandes áreas.
Já a Starlink utiliza pequenos satélites que operam na órbita baixa terrestre (LEO), a uma altitude de cerca de 500 km. No entanto, para cobrir a mesma área que a Viasat, é necessário um número muito maior de satélites, chegando a milhares de equipamentos.
Disputa pelo espaço: Viasat lança satélites para competir com Starlink da SpaceX
A Viasat lançou três novos satélites com capacidade de transferência de dados de mais de 1 terabit por segundo (Tbps), o dobro de sua frota atual, que inclui o ViaSat-1 e o ViaSat-2, focados nos Estados Unidos, com alcance inferior a 500 gigabits por segundo (Gbps). Com a adição desses satélites, a rede da Viasat terá 3 Tbps, representando uma evolução de 500%.
“Cobriremos mais de 90% da área habitada do planeta. Cada um será responsável por quase um terço do globo. Só os polos ficam de fora”, explica Leandro Gaunszer, diretor-geral da Viasat Brasil.
Essa expansão permitirá que a Viasat melhore seus serviços existentes e alcance novos territórios, proporcionando conectividade a regiões remotas. O projeto enfrentou atrasos desde 2019, mas agora permitirá uma conexão de qualidade e velocidade em uma cobertura global, que é fundamental para competir com a Starlink da SpaceX, em uma corrida cada vez mais acirrada pela internet espacial.
A Amazon também entrará no mercado com um projeto semelhante, a rede Kuiper, com o lançamento de 3.236 satélites previsto para o próximo ano.
Brasil
Um estudo recente do Instituto Locomotiva revelou que mais de 33 milhões de brasileiros não têm acesso à internet, e outros 86,6 milhões não conseguem se conectar diariamente. Embora os satélites não sejam a solução ideal para tirar as famílias de baixa renda da exclusão digital, algumas iniciativas governamentais têm usado a tecnologia para democratizar o acesso.
Um exemplo é o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), que usa a conexão satelital em pontos de wi-fi comunitário. A Viasat é uma empresa que opera no Brasil desde 2018 em parceria com a estatal Telebras, usando 58% da capacidade do SGDC para oferecer serviços de banda larga para empresas e residências em todo o país. Em troca, a empresa fornece mais de 25 mil pontos de conexão de interesse público, incluindo unidades de saúde, escolas rurais e comunidades indígenas.
Essas conexões via satélite têm sido importantes em situações de crise e desastres humanitários, quando as redes convencionais ficam fora do ar.
A Viasat tem desempenhado um papel fundamental nesses casos, como em Brumadinho, no litoral Norte de São Paulo e na Terra Indígena Yanomami. Apesar de ser uma alternativa mais cara do que as redes convencionais, a conexão via satélite é uma solução viável para levar internet a áreas remotas e carentes de infraestrutura de telecomunicações.
A SpaceX tem interesse em estabelecer parcerias com o governo brasileiro. Em maio do ano passado, o empresário Elon Musk visitou o Brasil para formalizar um acordo com a Starlink. O compromisso assumido foi utilizar a rede de satélites para conectar 19 mil escolas brasileiras e monitorar a Amazônia, incluindo o combate ao desmatamento e aos incêndios.
O que será trazido ao Brasil pelo Viasat-3?
O Viasat-3 Américas será o primeiro satélite da empresa a operar no país, e embora o diretor não tenha divulgado a porcentagem exata da capacidade total dedicada ao Brasil, ele garante que a maior parte (cerca de 80%) será destinada às regiões Norte e Centro-Oeste, onde há menor penetração de banda larga em áreas rurais.
De acordo com Gaunszer, diretor da empresa, mais da metade dos clientes que contratam o serviço deles estão recebendo banda larga pela primeira vez, desde pequenas empresas até fazendas do agronegócio e casas de campo isoladas. No entanto, a maioria dos clientes está concentrada no Sudeste e no Nordeste.
Atualmente, o plano mais barato da ViaSat para clientes residenciais custa R$ 179 por mês, com velocidade de download de 10 Mbps e franquia de dados de 25 GB. Com a nova frota, espera-se que a velocidade por usuário ultrapasse 100 Mbps, tornando o produto mais atraente.