De acordo com um estudo de cientistas de várias instituições de pesquisa líderes, incluindo o Instituto Max Planck de Radioastronomia em Bonn, Alemanha, os equipamentos que compõem a constelação de satélites da Starlink estão “vazando radiação”.
“Este estudo representa o mais recente esforço para compreender melhor o impacto das constelações de satélites na radioastronomia”, disse o principal autor do estudo Federico Di Vruno, do Observatório SKA e da União Astronômica Internacional.
Após observar 68 dos satélites da SpaceX, os cientistas concluíram que detectaram “radiação eletromagnética não intencional” proveniente da eletrônica de bordo. A radiação não intencional pode impactar a pesquisa astronômica. Eles encorajam os operadores de satélite e os reguladores a considerar esse impacto na radioastronomia no desenvolvimento de espaçonaves e nos processos regulatórios.
Di Vruno e seus colegas focaram nos satélites da SpaceX devido ao fato de a empresa possuir o maior número deles em órbita no momento, totalizando mais de 2.000 unidades. Detalhe, hoje esse número é muito maior.
Os cientistas identificaram a radiação com o auxílio do LOFAR, uma rede de radiotelescópios com mais de 20 mil antenas, que é capaz de detectar a emissão de radiação em um amplo espectro de frequências, entre 110 a 188 MHz, proveniente de 47 dos 68 satélites que foram observados.
“Essa faixa de frequência inclui uma banda protegida entre 150,05 e 153 MHz especificamente alocada para radioastronomia pela União Internacional de Telecomunicações (ITU)”, diz o co-autor Cees Bassa do ASTRON, o Instituto Holandês de Radioastronomia.
A banda entre 150,05 e 153 MHz é especificamente designada pela (ITU) para uso exclusivo da radioastronomia. A proteção dessa faixa de frequência garante condições adequadas para a realização de pesquisas e estudos astronômicos importantes. Entretanto, a SpaceX não está violando nenhuma regra, pois, para satélites, esse tipo de radiação não é coberto por nenhum regulamento internacional.
Os autores também realizaram simulações desse efeito a partir de várias constelações de satélites. “Nossas simulações mostram que quanto maior a constelação, mais importante esse efeito se torna à medida que a radiação de todos os satélites aumenta. Isso nos preocupa não apenas com as constelações existentes, mas ainda mais com as planejadas. E também sobre a ausência de regulamentação clara que proteja as bandas de radioastronomia de radiação não intencional ”, diz o coautor Benjamin Winkel, do Instituto Max Planck de Radioastronomia (MPIfR).
Por enquanto, o impacto desse vazamento de radiação ainda é relativamente pequeno, mas pode ser prejudicial no futuro. Os cientistas informaram que estão em contato com a SpaceX, que se prontificou a manter a discussão para encontrar possíveis maneiras de mitigar quaisquer efeitos adversos à astronomia de forma colaborativa.