A era do Streaming começou com a promessa de cultivar programas sem o medo da pressão das classificações e cancelamentos rápidos. Logo depois, as plataformas de streaming começaram a cancelar programas tão rapidamente e brutalmente quanto qualquer emissora de TV.
Pensando nesse problema, a Variety Intelligence Platform (VIP+) e a Luminate colaboraram em uma exploração de dados para determinar com que frequência as principais empresas de streaming e programadoras lineares dos Estados Unidos cancelaram séries de TV nos últimos três anos. O novo relatório, “O Show Deve Continuar”, é uma análise estatística exaustiva que busca resolver um dos debates mais acalorados na indústria da televisão.
Os dados abrangiam todos os programas de televisão (sejam roteirizados ou não) que foram cancelados entre 2020 e 8 de agosto de 2023. Como pode ser observado no gráfico abaixo, os principais serviços de streaming (Netflix, Hulu, Disney+, Amazon Prime Video, Max, Apple TV+, Peacock, Paramount+) tiveram, em média, uma taxa de cancelamento combinada de 12,2% – o que não é muito maior do que a TV tradicional a cabo (10,8%), mas é menos da metade da taxa de cancelamento da TV aberta durante o mesmo período.
O serviço de streaming da Warner Bros. Discovery, que ainda é HBO Max no Brasil, é o que mais cancela programas, com uma taxa de cancelamento de 26,9%. Isso aconteceu porque eles cancelaram muitos programas desde a fusão da Warner Bros. com a Discovery em 2022.
O CEO David Zaslav decidiu cancelar programas como “Minx”, “Love Life” e até programas infantis para reduzir a dívida da empresa. Até mesmo séries originais da HBO não escaparam, como “Westworld”, que foi encerrada após quatro temporadas em novembro de 2022.
Embora a Netflix seja frequentemente criticada por cancelar muitos programas, o estudo mostra que na verdade eles cancelaram apenas 10,2% dos programas no período analisado, ocupando o quinto lugar entre os serviços de streaming. Isso inclui o cancelamento de programas de destaque como “Cowboy Bebop”, que foi cancelado menos de um mês após o lançamento em 2021.
É importante lembrar que o estudo considera o número variado de programas em cada plataforma, e a Netflix produz uma quantidade muito maior de conteúdo original em comparação com outros serviços, como o Peacock.
Ao contrário da reputação da Netflix como uma executora de séries que cancela rapidamente, o serviço de streaming é o único dos oito monitorados no estudo que realmente melhorou sua taxa de cancelamento a cada ano, de 2020 a 2023, tornando-se menos impulsivo ao longo do tempo.
A Apple TV+ teve a taxa de cancelamento mais baixa de todas as plataformas, com apenas 4,9%. Isso se deve em parte à ausência de qualquer programação de catálogo no serviço de streaming.
O braço de streaming da gigante de tecnologia é mais conhecido por sua comédia vencedora do Emmy, “Ted Lasso” (que concluiu a série após três temporadas no início deste ano) e dramas como “The Morning Show”, que foi renovado para uma quarta temporada antes da estreia da terceira temporada recentemente. Entre os poucos programas realmente cancelados na Apple TV+ estão “Mr. Corman”, estrelado por Joseph Gordon-Levitt, “Shantaram”, estrelado por Charlie Hunnam, e “High Desert”, estrelado por Patricia Arquette.
Por fim, ao analisar o número total de séries canceladas na televisão linear e no streaming, não há uma diferença significativa. Como mostrado no gráfico abaixo, houve 221 cancelamentos em todos os principais serviços de streaming de 2020 a 2023, em comparação com 193 na televisão linear.
O relatório também descobriu que, seja em plataformas de streaming ou na TV convencional, tendem a cancelar principalmente programas da primeira temporada em vez de programas que estão no ar há mais tempo. Plataformas de streaming tinham uma leve tendência a cancelar mais cedo, enquanto a TV aberta e a cabo eram um pouco mais pacientes – embora a diferença não fosse necessariamente significativa.
Quanto à questão de se a taxa de cancelamento na TV piorou ao longo do tempo (como alguns podem perceber), os dados da Luminate sugerem o contrário. Em todos os casos, as taxas diminuíram nos anos consecutivos de 2020 a 2023, tanto no streaming, na TV convencional e nas séries de TV em geral, com declínios especialmente dramáticos no último ano, enquanto as greves de Hollywood da WGA e SAG-AFTRA afetaram a produção de conteúdo para TV.