A Desktop, provedor de internet regional de São Paulo, está considerando uma mudança significativa em sua estratégia corporativa. A empresa abriu processo formal para avaliar a venda de sua parte de infraestrutura, que atualmente se estende por 57 mil quilômetros. Entretanto, o CEO Denio Alves Lindo, alerta para os riscos na operação.
O executivo afirma que o negócio despertou interesse de investidores em possuir uma rede no Estado de São Paulo, mas a possibilidade de venda da infraestrutura levanta questões sobre os impactos no serviço oferecido pela empresa, e avalia os benefícios de uma segregação.
Ele explica que do ponto de vista da empresa de telecomunicações, a gestão de uma rede própria é um diferencial crucial para a entrega de um produto de qualidade. Além de que renunciar a parte da infraestrutura para um terceiro pode comprometer a qualidade do serviço prestado. “Eu, pessoalmente, aqui, a pessoa do Denio, acho que é mais difícil você prestar um serviço com a mesma qualidade nesse modelo”.
“A partir do momento em que você abre mão de uma boa parte da infraestrutura e passa para um terceiro, você tem que acreditar muito fortemente que aquele terceiro vai ser tão diligente quanto você na prestação do serviço”, diz o CEO.
A qualidade na prestação de serviços também é uma estratégia de fidelização. No mês passado, a Desktop atingiu a marca de 1 milhão de clientes conectados e planeja dobrar esse número nos próximos anos. A empresa se vê como a maior consolidadora da banda larga no Estado de São Paulo, com presença em 180 cidades do interior e do litoral.
O executivo acredita que o uso da rede neutra só faz sentido em regiões mais disputadas por outras operadoras e que demandam investimentos mais volumosos para a construção de uma rede própria, como é o caso de São Paulo.
“Pode fazer pouquíssimo sentido para a Desktop investir em rede na capital [paulista], seria muito difícil construir, aprovar e operar para ter uma penetração que talvez não fosse a ideal para o retorno que esse investimento operaria”.
Impacto na expansão B2B
O BTG Pactual avaliou a rede de fibra óptica da Desktop em R$ 2,6 bilhões, e acredita que a venda do ativo pode ser caminho para destravar valor para a companhia. O entendimento dos analistas do banco é que os recursos poderiam ser utilizados na consolidação de mercado das ISP, as provedoras de serviços de internet, e para pagamento de proventos extraordinários aos acionistas.
Entretanto, segregar a rede bateria de frente com os planos de expansão da Desktop em prestação de serviços para empresas. Lindo ressalta as dificuldades em oferecer um serviço empresarial de qualidade utilizando uma rede de terceiros. “Eu acho bem complicado você oferecer um serviço B2B de qualidade usando uma rede de terceiros. […] O modelo de rede neutra que está se praticando no Brasil é bem focado em B2C [consumidor]”, diz.
Apesar de atualmente ter uma representatividade mínima nas receitas da Desktop, o segmento B2B é visto como uma oportunidade de crescimento significativa. Segundo o CEO, a Desktop já tem clientes no segmento corporativo e, eventualmente, contrata parceiros para prestar serviços de conectividade.
“O B2B é um mercado que requer uma qualidade muito mais rigorosa. Então acho que fica mais arriscado ainda você trabalhar com duas companhias fazendo a prestação de um único serviço. Eu me sentiria bem desconfortável de ter esse tipo de operação sendo cliente, e entendo que a maior parte das grandes e operadoras vai pensar dessa forma”.