
Com a promessa do 5G ainda distante da realidade de milhões de brasileiros, principalmente fora dos grandes centros, a internet via satélite vem ganhando terreno — e rápido. Dados recentes da Anatel (janeiro de 2025) mostram que o número de assinantes desse tipo de conexão aumentou 40% no último ano, ultrapassando a marca de 564 mil usuários em todo o país.
Essa expansão reflete um cenário em que a demanda por conectividade de qualidade só cresce, mas a infraestrutura tradicional segue limitada. E quem está ocupando esse vácuo são os satélites de baixa órbita, tecnologia que tem atraído os maiores nomes do setor de telecomunicações global, com destaque para a Starlink, do bilionário Elon Musk.
A chamada “constelação de satélites” é o trunfo dessas empresas. Diferente dos satélites geoestacionários, que ficam a 36 mil quilômetros da Terra, os de baixa órbita operam a cerca de 550 quilômetros de altitude. Isso garante menor latência (aquele “delay” chato) e velocidades mais altas. Não por acaso, a Starlink já abocanha 59,3% do mercado brasileiro, seguida pela Hughes (30,2%) e Viasat (3,5%).
Mas não pense que a disputa já está ganha. Há outras gigantes de olho nesse filão. Recentemente, a Anatel autorizou a operação da ruandesa E-Space Africa e da australiana Myriota. E há conversas em andamento com a chinesa SpaceSail e a espanhola Sateliot, que quer operar com 5G e satélites de baixa órbita em conjunto.
Para muitos usuários, especialmente no Norte e Nordeste, onde o acesso à internet é historicamente precário, a conexão via satélite é a única alternativa viável. Cerca de 70% dos assinantes são pessoas físicas, mas o setor agropecuário também tem aderido à tecnologia para conectar máquinas e operações em áreas afastadas.
Hoje, pacotes de internet via satélite podem ser contratados a partir de R$ 184 por mês, com velocidades que chegam a 100 megabits por segundo. A instalação ainda pesa no bolso — o equipamento custa pelo menos R$ 1.000, além de taxas de ativação —, mas a tendência é de queda com a chegada de novos concorrentes.
Enquanto isso, o 5G, que deveria ser a estrela da conectividade, ainda engatinha. Atualmente, apenas 1.222 dos 5.570 municípios brasileiros têm cobertura da nova geração de rede, sendo que só 891 contam com o 5G “puro”, o standalone, na faixa de 3,5 GHz. E embora o governo esteja avaliando antecipar as metas de universalização previstas para 2029 e 2030, há dúvidas sobre a viabilidade técnica e econômica para isso.
“Os satélites conseguem chegar onde a rede terrestre não vai por questões de custo ou geografia”, afirma Mauro Wajnberg, presidente da Abrasat. Já para Leonardo Finizola, da Qualcomm, a internet via satélite também tem um papel importante nos grandes centros, especialmente em aplicações industriais, onde é preciso garantir conectividade contínua.
Apesar dos avanços, especialistas alertam que o satélite ainda não substitui completamente a infraestrutura terrestre, principalmente em aplicações que exigem latência mínima e alta estabilidade, como carros autônomos e cirurgias remotas. Mas a complementaridade entre as tecnologias deve ser o caminho mais provável nos próximos anos.
No meio desse cenário, o Ministério das Comunicações planeja lançar ainda neste mês o programa “Comunidades Conectadas”, que pretende levar internet móvel a 115 áreas de difícil acesso. Com 29 milhões de brasileiros ainda fora da internet, a corrida por inclusão digital segue aberta — e agora, com satélites na liderança.