Nos últimos dozes meses, agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) encontraram equipamentos da Starlink, empresa de internet via satélite fundada por Elon Musk, em mais de 20 garimpos ilegais na Amazônia.
Segundo um levantamento feito pelo UOL, com base nos dados abertos públicos do instituto, foram confiscados pelo menos 32 aparelhos da Starlink de abril de 2023 a março de 2024.
Os dados mostram que oficialmente foram apreendidos no total 90 aparelhos de internet, mas as marcas dos equipamentos nem sempre são especificadas. Entretanto, de acordo com os agentes do Ibama, é provável que a maioria desses dispositivos sejam da empresa de Elon Musk, o que indica uma adesão massiva e preocupante ao serviço por parte dos garimpos ilegais.
Das antenas que foram encontradas pelo Ibama desde abril de 2023, 9 foram achadas na Terra Indígena Yanomami, que passa por uma crise humanitária, e outras 12 estavam próximas ao Vale do Javari. O Ibama confirma e reconhece que “tem sido comum encontrar antenas da Starlink em garimpos“, e que “as antenas encontradas são apreendidas e, quando não é viável removê-las devido à falta de acesso por estradas, são destruídas pelos fiscais“.
“A Starlink já tem praticamente o monopólio da comunicação do crime ambiental na Amazônia. Para usar internet em uma área remota, como um garimpo, ela tem menor custo e é bem mais rápida e prática do que as concorrentes, que desapareceram. Todo acampamento de criminosos hoje tem uma antena da Starlink”, afirma Felipe Augusto Finger, chefe do Serviço de Operações Especiais de Fiscalização do Ibama, em nota ao UOL.
Ocorrências de uso ilegal
O Brasil não é o unico lugar em que a Starlink está envolvida em casos de uso ilegal de seu serivço. De acordo com uma investigação da Bloomberg Linea, vários kits de internet estão sendo negociados e ativados ilegalmente em outros países. O que mostra que é um problema global sistêmico.
Um dos casos ocorreu quando a Ucrânia afirmou que a Rússia estava usando a Starlink em seus próprios esforços de guerra, enquanto postagens não verificadas na X pareciam mostrar soldados russos desempacotando kits. Na época, Elon Musk escreveu na plataforma X (antigo Twitter) que “Segundo nosso conhecimento, nenhum Starlink foi vendido direta ou indiretamente para a Rússia”.
Na África do Sul, o governo ainda não aprovou a aplicação do Starlink para operar, mas o serviço da empresa é usado no país. Grupos no Facebook apresentam fornecedores que oferecem comprar e ativar os kits em Moçambique, onde são licenciados, e entregá-los na África do Sul.
Segundo o Bloomberg Linea, havia usuários suficientes do serviço no país em 28 de novembro para que o regulador sentisse a necessidade de emitir uma declaração lembrando as pessoas de que o Starlink não possui licença para a África do Sul.