24/11/2024

Tecnologia para redução da desigualdade racial é defendida pela Vivo

Estudo divulgado pela Vivo mostra que estudantes negros estão mais presentes nas universidades,mas ainda são sub-representados.

A tecnologia é cada vez mais importante na vida cotidiana e no mercado de trabalho e por isso o Núcleo de Estudos Raciais do Insper (NERI) e a Fundação Telefônica Vivo acabam de lançar a pesquisa Tecnologia e Desigualdades Raciais no Brasil. Dentro dela concluiram que a exposição à tecnologia está positivamente associada com melhora na aprendizagem e inserção no mercado de trabalho.

O objetivo principal dessa pesquisa é investigar desigualdades raciais no acesso à tecnologia e seus desdobramentos em diferentes etapas da trajetória escolar, desde o ensino básico até o ensino superior. Confira abaixo mais detalhes desse estudo e a situação da sociedade que é relatado nele.

Tecnologia e Desigualdades Raciais no Brasil

Segundo a publicação, cursos em ciência e tecnologia são vitais para o futuro dos jovens brasileiros, e é essencial integrar competências digitais desde a educação básica. A tecnologia pode transformar a educação, mas, se não for bem integrada, pode aumentar desigualdades, especialmente raciais.

Este estudo examina as desigualdades raciais no acesso à tecnologia no ensino básico e superior no Brasil, focando na infraestrutura das escolas e no uso da tecnologia pelos professores. Os resultados mostram significativas desigualdades raciais nessas áreas:

“Assim como a tecnologia tem o potencial para aproximar e transformar o cenário
educacional, ela também pode, se não integrada ao ensino de maneira adequada
e equitativa, ser um instrumento catalisador de desigualdades de aprendizagem,
com reflexos no mercado de trabalho”.

Os resultados revelam aumento na proporção de negros em cursos de todas as áreas do conhecimento e em todos os tipos de universidade. No entanto, ainda estão sub-representados na maioria dos cursos, em especial nos de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM, na sigla em inglês), quando comparamos à população demográfica.

Neles, os negros representam 42% do total de matriculados, enquanto nas formações não-STEM, essa participação é de 47%. Em outras palavras, embora a presença dos negros esteja crescendo nas duas áreas, a disparidade em relação aos brancos é maior nos cursos STEM, atingindo 13,7 p.p., e 3.9 p.p nos não-STEM.

“Essa diferença é relevante porque o acesso desigual a cursos de maior prestígio e melhores perspectivas de emprego pode limitar oportunidades profissionais e contribuir para as disparidades salariais observadas posteriormente na carreira”, explica Michael França, Coordenador do NERI.

“O Estado pode perpetuar desigualdades de várias formas, incluindo com disparidades nos investimentos na infraestrutura escolar. Ao oferecer aos negros menos acesso à tecnologia, o Estado se torna uma fonte relevante de reprodução das desigualdades educacionais e socioeconômicas preexistentes”.

Qual a participação da Vivo neste cenário?

Lia Glaz, diretora-presidente da Fundação Telefônica Vivo, disse que é “essencial que sejam feitos investimentos específicos” nos locais onde há maior quantidade de população negra que não tem sido corretamente assistida.

“É essencial que sejam feitos investimentos específicos em regiões onde a população negra é mais representativa. Alunos pretos de escolas do Nordeste e Norte, por exemplo, não têm as mesmas oportunidades que estudantes brancos do Sul e Sudeste”.

No que se refere à exposição à tecnologia, Lia ainda reforça a importância de garantir uma educação básica de qualidade para que o aluno chegue apto para ser inserido no mercado de trabalho.

“Nesse sentido, é essencial olharmos para o desenvolvimento de competências digitais de estudantes e educadores. Mais do que sobre ter tecnologia, estamos falando sobre como usá-la para que ela realmente gere impacto na vida dos jovens dentro e fora da escola”.

Outras percepções que a pesquisa entrega

Em divulgação à imprensa sobre o estudo, a Vivo destacou que a pesquisa também traz evidências sobre como essas disparidades estão presentes desde o início da trajetória escolar dos estudantes.

Olhando para a educação básica, o estudo avalia o acesso de alunos a tecnologias considerando a presença de infraestrutura adequada nas escolas e seu uso pelos professores para fins pedagógicos.

Os resultados indicam desigualdades raciais relevantes nessas duas dimensões, mensuradas a partir de dados do Censo Escolar e do Saeb. O levantamento mostra, por exemplo, que um aumento de 10 pontos no índice de exposição à tecnologia no 5º ano do Ensino Fundamental está associado a uma nota 18,5 pontos maior em matemática (em uma escala de 0 a 500).

No recorte racial, alunos negros do mesmo ano, obtêm, em média, 14,5 pontos a menos em matemática em relação à média Brasil, quando comparados com alunos brancos com o mesmo nível de exposição à tecnologia. Essa distância cai para 4 pontos quando são comparados alunos das mesmas regiões e com as mesmas condições socioeconômicas.

Esses fatores mostram que a diferença de desempenho entre negros e brancos está fortemente relacionada a fatores sociais e regionais, que são reflexo de disparidades raciais históricas“, destacou o setor de responsabilidade social da operadora.

Desque interessante

A companhia destaca também que historicamente, a participação de negros no ensino superior é inferior à dos brancos, no entanto, o estudo revela uma mudança nesse panorama nos últimos anos.

Em 2009, os negros representavam apenas 34% dos matriculados na universidade, o que evidencia sua sub-representação nesse nível de ensino. Já em 2022, essa proporção subiu para 46% – crescimento de 12 pontos percentuais.

A tendência sugere um movimento positivo na composição racial dos estudantes do Ensino Superior, indicando um progresso em direção à equidade racial na representação dos estudantes, uma vez que, no final do período de observação do estudo, os dois grupos raciais passaram a ter participação próxima a 50%, percentual próximo da distribuição racial da população brasileira.

O aumento na presença de negros pode estar associado a uma série de fatores que ocorreram no período, como políticas de reserva de vagas, expansão do acesso ao ensino médio e regimes de financiamento estudantil e bolsas de estudo em universidades privadas. E aqui cumpre ressaltar que cerca de 90% do avanço foi impulsionado pelo aumento da participação dos negros em instituições privadas.

Políticas Públicas

A pesquisa ainda indica algumas recomendações de políticas públicas que devem ser tomadas diante do resultado alcançado que revela que exposição à tecnologia está positivamente associada com melhora na aprendizagem e inserção no mercado de trabalho:

  • Fortalecer políticas em nível federal e direcionar recursos financeiros de forma a reduzir disparidades entre regiões mais pobres e mais ricas do Brasil;
  • Acompanhamento continuado do acesso e uso da tecnologia na educação básica e seu impacto no desempenho;
  • Investimento consistente na infraestrutura das escolas e uma estratégia permanente de estímulo e fortalecimento da transformação digital na gestão pública de educação e nas práticas pedagógicas;
  • Garantir a sustentabilidade da expansão do ensino privado e EaD e assegurar que a qualidade dos cursos seja tão boa quanto a dos presenciais;
  • Exigir um percentual mínimo de alunos ou bolsistas negros em cada curso de ES para condicionar o acesso a subsídios governamentais e programas de fomento.

Todos os dados e resultado da pesquisa podem ser conferidos aqui.

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