Em mais uma reportagem especial, analisamos preços, índice de reclamações e cobertura da operadora norte-americana AT&T. A grama do vizinho é mais verde?
Desde que foi apontada como possível compradora da Oi, os brasileiros parecem ter se animado com a possibilidade da AT&T começar uma atuação em terras brasileiras. Entre os leitores do Minha Operadora, muitos torciam pela chegada da gigante a fim de ter uma concorrência de peso como ameaça ao consolidado espaço da TIM, Claro e Vivo, as maiores do país.
Afinal, todos querem um maior leque de opções e ainda podem se sentirem reféns de uma ou de outra devido a cobertura. Entretanto, um dos comentários se destacou. Na ocasião, o usuário torceu pela vinda da operadora americana, mas questionou: “Será que a AT&T é realmente tudo o que dizem?”.
Com essa questão, iniciamos uma matéria especial para conhecer as operações da marca no mundo afora, a reputação entre consumidores, preços, serviços e todas as informações necessárias para entender se uma possível vinda da operadora agregaria ao mercado brasileiro e, o principal de tudo, ao consumidor.
Obviamente, a compra da Oi pela AT&T já foi possivelmente descartada. Além da tele carioca não ter fomentado qualquer especulação ou interesse de venda, o Valor Econômico oficializou o desinteresse da operadora americana e citou fontes do governo federal para comprovar.
Mas nada foi confirmado por representantes das próprias empresas. A AT&T, inclusive, possui atuação por meio de licenciamentos e marcas que são de sua propriedade, fatos que vamos entender melhor mais à frente.
ENTENDA MELHOR SOBRE AS ESPECULAÇÕES:
–> Americana
AT&T formaliza seu interesse pela Oi
–> Entenda
a influência da família Bolsonaro no futuro da AT&T e SKY
–> Desinteresse
da AT&T e teles brasileiras reacende alerta para a Oi
A AT&T no Brasil
Nos anos 90 e no início dos 2000, muitos conheciam a DirecTV e SKY como as principais prestadoras de TV por assinatura do Brasil. A segunda surgiu de uma aliança entre Grupo Globo, British Sky Broadcasting, News Corporation e Liberty Media International.
A DirecTV, por exemplo, tinha exclusividade na transmissão dos canais HBO. Ambas empresas detinham mais de 97% de toda a operação de TV paga via satélite no Brasil.
Uma mudança no mercado ocorreu quando a News Corporation anunciou a compra da DirecTV. A princípio, a regulamentação brasileira liderada pelo CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) definiu que SKY e DirecTV deveriam manter suas operações separadas, já que estariam sob mesmo comando.
A fusão entre as duas ocorreu logo após uma reestruturação de ambas marcas na América Latina e a aprovação no Brasil. Temporariamente, utilizaram SKY+DirecTV para que os consumidores brasileiros pudessem associar, depois, sobreviveu a marca que tinha mais força em cada país. Por aqui, reinou a SKY.
Em 2014, surge a AT&T no cenário. A operadora americana comprou o grupo DirecTV e assumiu todas as operações da marca no continente americano e nos outros países, o que inclui a SKY no Brasil. Portanto, oficialmente, a atuação da companhia no Brasil é no segmento de TV por assinatura, mas ela poderá ser ampliada em breve.
O imbróglio com a legislação brasileira
Em 2016, a americana comprou a Time Warner em uma operação de US$ 85,4 bilhões. Com a dívida do grupo, a operação pode ter chegado em US$ 108,7 bilhões. Entretanto, o único país que ainda não aprovou a compra é o Brasil. O motivo? A legislação.
A Lei do Serviço de Acesso Condicionado em 2011, também conhecida como Lei da TV Paga, fez modificações consideráveis no mercado. Uma delas é o impedimento da propriedade cruzada, ou seja, uma companhia não pode controlar empresas de distribuição e produção de conteúdo ao mesmo tempo.
Com a nova aquisição, a AT&T esbarra justamente nessa questão, já que passaria a controlar os canais da Warner e a SKY no Brasil. A lei tenta evitar que uma companhia, por exemplo, tenha exclusividade na transmissão de determinados canais, assim como a DirecTV tinha com a HBO no passado.
Isso configura uma discriminação da concorrência. Entretanto, a companhia americana firmou um compromisso com o CADE para tratar as duas como empresas diferentes e não fazer esse tipo de prática com as emissoras que ficarem sob seu controle.
No Brasil, a Time Warner é dona dos canais HBO, Cartoon Network, TNT, Warner Channel, entre outros.
Entidades do governo e do mercado de telecomunicações seguem com tentativas de aprovar a compra com a Anatel ou modificar a Lei da TV paga.
SAIBA MAIS SOBRE O PROCESSO:
–> Concluída
fusão entre a dona da SKY, AT&T, e a Time Warner
–> Anatel
manda que AT&T venda a SKY Brasil
–> AT&T
terá que tentar nova estratégia para permanecer dona da SKY
Um gigante conglomerado em mãos de uma única operadora
Para melhor compreensão, a AT&T é uma empresa de telecomunicações. Sua oferta de serviços inclui internet banda larga, telefonia, TV por assinatura e outros produtos, além de um catálogo próprio para os clientes corporativos.
Nos Estados Unidos, a companhia existe desde 1883 e já passou por diversas fases. Nos tempos de mais sucesso, cobriu 94% da área americana e constituiu um verdadeiro monopólio.
Hoje, a atuação da marca é dividida e abriu um maior espaço para a concorrência. As unidades de negócio são quatro:
AT&T Communications: Fornecedora de serviços móveis, telefonia, banda larga, vídeo e outros como soluções de segurança. A entrega é para consumidores norte-americanos e quase três milhões de empresas em todo o mundo. A receita totalizou US$ 144 bilhões só em 2018.
WarnerMedia: Um dos mais tradicionais estúdios de Hollywood, responsável pelas divisões WarnerMedia Entertainment, WarnerMedia News & Sports e Warner Bros. Receita estimada em mais de US$ 33 bilhões só em 2018.
AT&T Latin America: Fornecedora de serviços móveis para o México e o serviço de TV por assinatura da Vrio (antiga DirecTV), com atuação na América Sul e Caribe. É a unidade que se encaixa a SKY no Brasil. O faturamento foi acima de US$ 7 bilhões em 2019.
XANDR: Divisão de publicidade e análise da AT&T. Uma plataforma online para comprar e vender anúncios digitais focado no consumidor. Também com receita acima de US$ 7 bilhões só em 2018.
A aquisição da Warner fez com que a empresa ampliasse a proposta e seguisse o caminho de se tornar umas das líderes de comunicação, mídia e entretenimento do mundo.
Atuação mundial
Na telefonia e outros serviços de telecomunicações, a AT&T atua massivamente nos Estados Unidos e México.
No segundo, por exemplo, a companhia destaca que contribui para a inclusão digital do país. A rede 4G/LTE da operadora está disponível para 100 milhões de pessoas e o investimento, desde a chegada, foi de US$ 8,5 bilhões.
Com os serviços de TV por assinatura e entretenimento digital, a Vrio entra em ação. No grupo, estão inclusas as operações da DirecTV em países como Argentina, Barbados, Chile, Colômbia, Curaçao, Equador, Peru, Trinidad e Tobago, Uruguai e Venezuela.
Já a SKY tem presença no Brasil. No México, a AT&T tem uma participação minoritária de 41% na mesma.
O streaming DirecTV Go, uma TV paga online, está em países como Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Uruguai.
LEIA MAIS SOBRE A OPERAÇÃO DA AT&T MUNDO AFORA:
–> AT&T
vende operações na América Latina para pagar dívidas
–> AT&T
pretende vender até US$ 10 bilhões em ativos em 2020
–> Operadora
AT&T, dona da SKY, aumenta lucro em 30% no trimestre
Reputação
Primeiramente, em análise pelo lado do consumidor, consultamos o Better Business Bureau, portal com função equivalente à do Reclame Aqui. Na busca pelos serviços da AT&T, o site classifica a empresa como “não acreditada”.
A avaliação própria do site coloca a prestadora com um A-, já a dos consumidores é de uma única estrela entre cinco para os serviços de telecomunicações.
Em uma breve olhada nos relatos, encontramos problemas semelhantes aos das operadoras no Brasil. Alguns usuários reclamam do monopólio, outros sobre cobranças errôneas ou abusivas, problemas com Wi-Fi, entre outros.
Os números mostram mais de 30 mil reclamações recebidas nos últimos três anos e mais de 11 mil encerradas nos últimos 12 meses.
Já no DownDetector, que também mapeia operações dos Estados Unidos, a empresa é classificada com duas estrelas pela atuação nos últimos três meses. Os problemas mais relatados estão relacionados a internet e telefone.
O Consumer Affairs, outro portal para reclamações, avalia a AT&T com três estrelas baseadas em 3.710 avaliações recebidas nos últimos meses. No site, há elogios para as lojas da operadora e o atendimento prestado pelos funcionários.
No México, um relatório estatístico do sistema “Sou Usuário”, preparado pelo Instituto Federal de Telecomunicações do país (Ifetel) mostrou que a empresa foi líder no número de reclamações no primeiro semestre de 2019. O aumento em relação a 2018 foi de 127%.
A marca, inclusive, tem o maior tempo de espera para as solicitações de usuários. O tempo médio é de 6,8 dias, mas a AT&T demora cerca de 13,6 dias úteis.
Abaixo, um comparativo que mostra o cenário da AT&T com seus concorrentes no país nos serviços de telefonia móvel:
Na banda larga e TV por assinatura, a empresa ficou abaixo das suas concorrentes no número de reclamações.
LEIA MAIS SOBRE RECLAMAÇÕES DA SKY NO BRASIL:
–> SKY
é condenada por cobranças indevidas aos clientes
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casada gera condenação milionária para a SKY
–> SKY
muda pacotes de assinantes sem autorização e gera polêmica
Cenário atual
No atual cenário econômico, a AT&T (BVMF: ATTB34) busca fortalecer sua atuação com telecomunicações e entretenimento, mas ações performam abaixo da média por inúmeros motivos, a serem pontuados mais à frente.
Foi possível ter conhecimento sobre a atual situação da operadora pela entrada do Grupo Elliot, do bilionário Paul Singer. O fundo adquiriu cerca de US$ 3,2 bilhões em ações da marca. Não é suficiente para assumir o controle, mas tamanho investimento garante um assento no conselho de administração.
O grupo, conhecido por suas investidas agressivas, quer acelerar o retorno dos acionistas e focar a atuação de mercado da empresa em negócios que realmente dão retorno.
Em defesa, argumentam que os novos negócios da operadora a desviam do verdadeiro foco, que deveria ser o mercado de telecomunicações e o 5G.
Para ter uma melhor compreensão do que o grupo defende, é só conectar os fatos. A aquisição da TimeWarner gerou uma dívida de US$ 153,5 bilhões de dólares para a AT&T e os benefícios do investimento ainda não ficaram claros para os acionistas.
O grupo Elliott defende, inclusive, a venda do Vrio, grupo que controla a SKY no Brasil e todas as operações mencionadas da DirecTV. Entretanto, o plano da AT&T para se recuperar do lucro abaixo das expectativas, além das dívidas, é vender até US$ 10 bilhões de ativos em 2020.
5G
Para os Estados Unidos, a operadora já possui rede 5G nas cidades de Atlanta, Austin, Charlotte, Dallas, Houston, Indianápolis, Jacksonville, Las Vegas, Los Angeles, Louisville, Nashville, Nova Orleans, Nova York, Oklahoma City, Orlando, Raleigh, San Antonio, San Diego, São Francisco, São José e Waco.
A previsão é que a oferta esteja disponível em todo país no primeiro semestre de 2020. Em testes, a velocidade máxima atingida foi de aproximadamente 1,2 Gbps em um canal de 400 MHz.
LEIA MAIS SOBRE OS ASSUNTOS MENCIONADOS:
–> Fundo
investidor da AT&T defende venda da SKY
–> AT&T
rebate críticas em relação ao polêmico 5G E
–> AT&T
remarca 4G como 5G E e cria enorme confusão
Planos e preços
Para os americanos, um plano pré-pago com dados móveis ilimitados, por exemplo, sai a US$ 65 por mês. Na conversão, o valor fica acima de R$ 272. Se o cliente optar por um plano com menor custo, poderá pagar US$ 50 por 8 GB de internet, que custa mais de R$ 200 na conversão.
Um plano pós-pago para compartilhamento entre quatro linhas pode chegar a US$ 120 mensais (R$ 503) no total, com 3 GB de dados móveis, streaming liberado na qualidade de 480p e outros benefícios.
Se o cliente optar por dados móveis ilimitados no pós-pago, pode adquirir um de US$ 40 mensais (R$ 167,67) com streaming liberado na mesma qualidade que o anterior. Entretanto, a empresa destaca que pode diminuir a velocidade de conexão após o consumidor ultrapassar o limite de 50 GB, mas somente em momento de congestionamento da rede.
No pré-pago, a prática pode ocorrer a qualquer momento, sem um limite de dados a ser atingido.
Há também uma opção ilimitada, mas com velocidade baixa após atingir 100 GB no custo de US$ 50 mensais, R$ 209 na conversão. A fins comparativos, é um plano equivalente a oferta que a Oi disponibiliza atualmente por R$ 99, na promoção de Black Friday.
Já nas opções para planos de compartilhamento, também conhecidos como “família”, o Brasil tem um leque de opções mais interessantes. O TIM Black cobra R$ 269,99 mensais para oferecer 20 GB entre três linhas dependentes, assinatura Netflix e outras vantagens.
Um plano com três linhas da Vivo e um total de 80 GB sai a R$ 319,99 mensais. A Claro oferece pacotes de até 100 GB, mas cobra R$ 39,99 por cada linha, mais o valor do plano.
Oferta no México
No México, a AT&T mostra uma outra realidade de valores e ofertas. No pré-pago, o máximo de dados móveis oferecido são 3 GB mais 7 GB exclusivos para YouTube, com redes sociais ilimitadas. O valor cobrado é de MXN$ 200, R$ 40 na conversão.
Há um pacote com funcionamento semelhante ao do Vivo Easy também. Se o consumidor adquirir serviços com pagamento antecipado, pode ganhar 12 meses de serviços como redes sociais gratuitas. Mas, os preços podem ser elevados. Na compra de 8 GB de dados, o cliente leva o dobro e paga MXN$ 899 (R$ 194,29).
Um pacote com 25 GB de internet tem o custo de MXN$ 2064, R$ 446 em moeda brasileira.
Todas as fichas para o HBO Max
Atualmente, é importante mencionar a grande aposta da AT&T, por meio da Time Warner: o HBO Max. Trata-se de uma plataforma de streaming que vai reunir todas as produções do estúdio.
O anúncio já promoveu grande repercussão, especialmente na concorrência. A Netflix, por exemplo, perdeu uma das séries mais assistidas do seu catálogo: Friends, comédia de sucesso e aclamação mundial de propriedade da Warner Bros.
Entretanto, o mercado de vídeo sob demanda se encontra em verdadeira saturação. Os estúdios sabem do desafio que terão para desbancar a presença mundial da Netflix, além da forte concorrência do Disney+ e outros que vão surgir.
Os últimos movimentos em prol do novo streaming da Warner, como o anúncio do valor, por exemplo, geram quedas nas ações da companhia.
No Brasil, não há planos de lançamento para plataforma devido a incerteza com a legislação. Enquanto a propriedade cruzada não for derrubada pela Lei da TV paga, a AT&T terá uma atuação incerta e frágil no entretenimento, já que seria obrigada a escolher entre Warner e SKY para seguir com as operações.
A companhia já deixou bem claro que não pretende se desfazer de nenhuma e seguirá no aguardo pela aprovação da compra ou mudança na legislação.
LEIA MAIS SOBRE O HBO MAX:
–> WarnerMedia
anuncia seu novo streaming: HBO Max
–> HBO
Max já tem data de lançamento
–> Não
há planos de lançar o serviço HBO Max no Brasil
E o interesse no Brasil?
Sobre a atuação da AT&T no Brasil, há uma única certeza: a marca seguirá no segmento de TV por assinatura e, se tudo correr bem com a aquisição da TimeWarner, entrará de cabeça no mercado de entretenimento audiovisual com o lançamento do HBO Max.
Na parte de telecomunicações, a operadora já flertou com uma vinda para o Brasil diversas vezes, mas desistiu quando se deparou com as regras setoriais como concessão, licitação de frequência, controle de preço e ofertas, entre outras.
Obviamente, adquirir a Oi e toda a sua infraestrutura facilitaria o caminho da AT&T, mas a julgar pelo seu atual momento, fazer um novo investimento pode ser arriscado, especialmente um sem previsão para começar a dar retorno e com dívidas.
No México, a empresa precisou de pouco mais de três anos para começar a ter retorno de capital. No Brasil, foi ainda mais demorado.
Os usuários que sonham com uma chegada impactante da empresa nos serviços de telecomunicações devem considerar que a oferta e os preços vão depender da realidade econômica do país.
O atual interesse da gigante no Brasil é mesmo no glamouroso mercado do entretenimento audiovisual. Ambiente da Rede Globo e outras. A vinda do HBO Max para o país, apesar de não ter previsão, é estratégica. Assim como a continuidade das operações da SKY, que é a segunda maior prestadora de TV por assinatura do país.
Com informações de FORBES México, Valor Econômico e Tele.Síntese