Ter um telefone convencional é uma comodidade em milhares de residências brasileiras, mas o caminho indica uma extinção iminente.
Há exatos cinco anos, o último levantamento da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), realizado pelo IBGE, indicava que cerca de 91,1% dos lares possuíam um aparelho celular. Desse número, apenas 37,1% contava com a telefonia fixa convencional.
Atualmente, em pleno 2020, a porcentagem é ainda menor. O número de acessos do serviço decresce há mais de 12 meses, sem qualquer registro positivo. A última PNAD Contínua, divulgada em abril, mostrou que 28,4% dos domicílios brasileiros utilizam um telefone fixo.
De fato, o multifuncional smartphone parece um substituto imbatível para o obsoleto aparelho de comunicação, que sequer oferece uma mobilidade para seus consumidores.
Para os clientes corporativos, a telefonia fixa ainda se configura como um serviço essencial. Apesar da alta adesão ao digital, o segmento ainda representa o principal meio de contato para relacionamento com os clientes.
Já para o consumidor final, pesa o fato de ter duas contas a serem pagas. A do smartphone e a do serviço fixo. Nesse caso, obviamente, a comunicação móvel ganha preferência pela multifuncionalidade.
Em contrapartida, para os lares que ainda possuem o serviço de comunicação fixa, pelo aparelho convencional, há pelos menos dois motivos que justificam a permanência.
O primeiro é a notória comodidade promovida, além da tradição. O segundo é um reflexo direto das localidades que ainda contam com condições precárias para desenvolvimento da estrutura de telefonia móvel.
Agora, vamos além. Como as estatísticas refletem o cenário?
A participação das operadoras no cenário
De acordo com o gráfico, com o passar dos anos, quem mais cresceu no segmento foi o Grupo Claro. Um possível motor para esse aumento de market share da prestadora pode ter sido a integração NET, Claro e Embratel, anunciada em 2011.
Em 2019, a NET foi oficialmente incorporada na operadora e a prestação de serviços passou a ser única nas localidades em que as duas estavam presentes.
Quem caiu foi a Oi, empresa que disputava a liderança de mercado com a Vivo em 2016. A estratégia atual envolve a descontinuação dos serviços em cobre, mas a telefonia fixa segue em comercialização pela operadora.
Já a Vivo, que chegou ao domínio de mercado com folga entre os anos de 2017 e 2018 viu seu número de clientes reduzir drasticamente e hoje pode perder market share para as concorrentes a qualquer momento. A diferença é pouca.
No entanto, toda a oscilação da fatia de mercado das operadoras no segmento é oriunda do ritmo decrescente dos acessos na telefonia fixa. Todas estão com estratégias voltadas para outros produtos.
A telefonia normalmente é embutida nos tradicionais combos com TV por assinatura e internet banda larga, mas até mesmo nesse tipo de oferta o produto deve perder espaço, já que as empresas de telecomunicações priorizam investimentos em fibra óptica e disponibilizam a telefonia VoIP, que vamos abordar no próximo tópico.
VoIP: Alternativa ou concorrência?
Uma alternativa para a telefonia convencional é o serviço “Voz sobre Protocolo de Internet”, também conhecido como VoIP. Grandes corporações com acesso aos links de larga escala adotaram previamente a tecnologia.
A popular ligação pelo aplicativo WhatsApp, por exemplo, pode ser considerada uma VoIP, mas há operadoras próprias e especializadas nesse tipo de chamada.
Em suma, utilizar essa tecnologia é fazer uma ligação pela rede de internet, ao invés de usar o sistema de telefonia tradicional. Para o consumidor final, é um recurso que se torna cada vez mais popular.
As operadoras que comercializam conexões de banda larga via fibra, por exemplo, oferecem a telefonia VoIP em conjunto. Assim, os consumidores adquirem a novidade por meio dos combos, mesmo que não tenham interesse.
A portabilidade numérica é outro grande facilitador para a popularização da ligação via internet. Portanto, ao menos nas residências brasileiras, a tecnologia pode vir a se tornar um dos principais meios de contato. Mas é uma mudança que precisa acompanhar o desenvolvimento da infraestrutura brasileira.
Já para as empresas, vai depender muito de qual tecnologia representa maior vantagem na localidade escolhida, assim como na questão financeira.
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ISSO?
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as novas obrigações do Plano de metas da telefonia fixa
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sanciona sem vetos novo marco legal das telecomunicações
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autoriza aumento nas tarifas de telefonia fixa
Concessão x Autorização
É importante contextualizar que a história da telefonia fixa tem um grande impulso a partir de 1997, quando foi consolidada a Lei Geral de Telecomunicações. O serviço saiu de 11 milhões de clientes para 40 milhões em apenas três anos.
Pelo regime de concessão, o governo cede para que uma determinada companhia tenha o direito de explorar a atividade. Os lucros, obviamente, estavam sujeitos a cobranças e tarifas.
Já pela autorização, a relação é unilateral e as operadoras possuem maior liberdade. A empresa pode romper o vínculo com o setor a qualquer momento. Aqui, os preços são livres e não ficam dependentes da definição de tarifas.
Em outubro de 2019, o projeto de lei que alterava a Lei Geral das Telecomunicações foi aprovado e as empresas que estavam sob o primeiro regime se livraram de uma série de obrigações. A manutenção dos orelhões públicos era uma delas.
A migração de um para o outro é opcional para as empresas que atuam no mercado, mas todas poderão priorizar os investimentos na telefonia móvel e banda larga, por exemplo.
Os números indicam a extinção da telefonia fixa?
De acordo com o gráfico acima, a telefonia decresce desde 2015. Em cinco anos, a evasão foi acima de 10 milhões, mais precisamente 10.536,807. Um número expressivo que pode sim indicar uma extinção iminente para a telefonia fixa convencional.
As estatísticas atuais estão até mesmo abaixo da previsão feita pela Anatel em 2018, quando a agência destacou que até 2020 seriam 38,5 milhões, quando na verdade estamos em 32,7 milhões.
Pela agência reguladora, é possível verificar que a densidade (acessos por 100 domicílios) é maior na região Sudeste, com 66,0. Depois, o destaque fica com o Sul, em 52,6 e Centro-oeste, que está com 47,5.
No geral, é notório um fluxo intenso de queda nos números, que não registram dados positivos há anos. Portanto, é previsível que o serviço caminha para o fim, mas ainda deve resistir por algum tempo.
Quais medidas podem conter uma evasão?
Se os números não param de cair, é difícil imaginar que as operadoras tenham alguma iniciativa bem-sucedida para reverter o cenário negativo do segmento de telefonia fixa. Pelo contrário, medidas desse tipo sequer fazem parte da estratégia adotada por muitas.
Afinal, quase todas possuem a telefonia móvel como principal fonte de renda, serviço que de certa substitui os convencionais aparelhos telefônicos nas residências brasileiras.
Mas os tradicionais combos ainda contribuem coma venda de telefonia fixa. Algumas operadoras também, com inclusão das regionais, englobam o serviço de maneira conjunta quando um consumidor solicita internet e TV por assinatura.
Entretanto, as regionais, que lideram acessos em banda larga, dispõem da tecnologia VoIP para os clientes. Uma adesão que ajuda na queda dos números da telefonia fixa tradicional.
As grandes operadoras do país também já vendem esse modelo, oriundo da expansão da fibra óptica pelo Brasil. Mesmo assim, os combos ainda são boas alternativas para as empresas que ainda querem vender telefonia fixa de forma estratégica.
Por qual motivo as pessoas cancelam suas linhas fixas?
Para entender melhor o cenário, o Minha Operadora consultou alguns voluntários que ainda possuem ou cancelaram seus telefones fixos.
Bruna Brito, 27 anos, que trabalha como Analista Financeiro, conta que encerrou recentemente seu contrato de linha fixa. Ela vive com a família e justifica que cinco pessoas em sua residência possuem um telefone móvel
“Os planos atuais de telefonia móvel oferecem ligações ilimitadas. Telefone fixo se tornou um gasto desnecessário na minha casa, pois não tinha mais utilidade”, afirmou.
Já Maria José Braga Mastrange, 50 anos, enfermeira, segue com a telefonia fixa por conta da oferta de um combo, mas ainda vê utilidade para falar com parentes que não são adaptados com as ligações via WhatsApp.
Claudio da Cruz Fraga, 56 anos, aposentado, se incomodou com o alto custo no serviço e não estava satisfeito com o funcionamento e a prestação da operadora responsável. Por isso, optou pelo cancelamento e hoje utiliza apenas a telefonia móvel.
A analista de RH Cida Quirino, 34 anos, ainda vê muita utilidade no serviço para realizar seu trabalho, mas apenas dentro da empresa. Fora dela, o celular supre muito bem as necessidades de comunicação e qualquer outra que esteja ao alcance da tecnologia.
Walter Freire, 56 anos, funcionário público, lembra que a telefonia fixa já foi o principal meio de contato no trabalho e para conversar com familiares. Hoje a realidade é outra e o aparelho perdeu a funcionalidade.
“Atualmente resolvo todas essas questões por aplicativos de mensagens e, quando necessário, utilizo ligações. Meu plano de celular me oferece minutos ilimitados para qualquer operadora. Hoje o telefone fixo é mais utilizado para fazer contato com parentes de idade mais avançada e que não moram perto. Basicamente 90% dos contatos que faço por ele é com essas pessoas. As outras ligações que recebo é geralmente de atendentes oferecendo os mais variados serviços, como telefonia e assinatura de jornal”, destacou o administrador.
Freire conta ainda que o telefone fixo atualmente é um costume. O serviço é embutido em seu pacote com TV por assinatura e banda larga. A família não utiliza mais.
O que o futuro reserva?
Conforme visto acima, comodidade e tradição garantem a sobrevivência do telefone fixo, mas os números não mentem.
As estatísticas decrescentes acendem um alerta para a telefonia convencional. Os combos com internet e TV por assinatura são insustentáveis para continuar a venda. A própria TV paga vive uma evasão de clientes contínua.
Entretanto, os serviços ainda tem muita utilidade para empresas, especialmente as que trabalham diretamente com vendas. Nesse caso, a concorrência com a comunicação tecnológica móvel depende muito dos custos.
Enquanto algumas ainda enxergam vantagens na contratação de telefonia fixa, outras preferem comprar smartphones e contratar planos para os funcionários exercitarem suas atividades.
Mas, para o consumidor final, as vantagens oferecidas pela concorrência dos celulares são incontáveis. Ter um aparelho multifuncional dispensa o gasto extra que a telefonia fixa se tornou para muitas famílias brasileiras.
Com informações de Anatel, Teleco, Intervozes e NexoJornal.