De tempos em tempos, os smartphones (celulares inteligentes) ganham novas funções. Eles já substituíram as câmeras fotográficas, depois se tornaram filmadoras, mais tarde passaram a competir com os computadores pessoais e, agora, estão prestes a tomar o lugar da boa e velha carteira de dinheiro. As 4 maiores operadoras de telefonia do Brasil firmaram parcerias com bancos e bandeiras de cartão de crédito para lançar, no início de 2013, sistemas de pagamento por meio do celular. O objetivo das empresas é adaptar os aparelhos para que possam ser usados em transferências, saques, consultas, compras e outras operações bancárias. “Em breve, não precisaremos mais andar com a carteira no bolso”, diz Gerson Rolim, diretor da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico. Para esse mercado se expandir, porém, será preciso superar duas barreiras: o alcance limitado da banda larga no País e a quantidade ainda insuficiente de smartphones em circulação. A chegada da telefonia de quarta geração pode acelerar essa corrida.
Como mais de 80% dos planos são pré-pagos e 36% dos brasileiros não possuem conta-corrente nem conta-poupança, os primeiros serviços serão voltados para essa parcela da população. Os produtos, que já estão sendo testados pelas operadoras, funcionarão com a ajuda do tradicional SMS e do USSD (uma espécie de SMS mais fácil de usar), ferramentas que permitirão ao usuário se cadastrar no sistema, realizar a compra e liberar o pagamento através de uma senha. “O celular vai promover a inclusão de milhões de pessoas no sistema financeiro”, diz Rolim. Para a população de maior poder aquisitivo, as empresas preparam outra novidade. Um chip conhecido como NFC (Near Field Communication) vai permitir pagar contas aproximando o celular das máquinas de cartão de crédito ou de caixas eletrônicos. “Esse sistema reunirá todos os tipos de cartões em um mesmo smartphone”, afirma Fiamma Zarife, diretora de serviços da Claro. “O seu funcionamento, porém, exige uma preparação sofisticada: celulares, lojas e terminais de bancos precisam estar todos equipados.” As operadoras dizem que os primeiros celulares adaptados estarão nos estabelecimentos comerciais em 2013 e apostam no aumento de vendas dos smartphones. No Brasil, 27 milhões de brasileiros usam esse tipo de celular, número que avança a cada ano, mas ainda é pequeno diante dos 256 milhões de celulares em operação no País.
As gigantes do setor estão de olho no novo filão de negócios. A Vivo, líder em telecomunicações no Brasil, e a Mastercard, bandeira de cartão de crédito com forte penetração no mundo todo, anunciaram recentemente a criação de uma joint venture, chamada de MFS Soluções de Pagamento, que tem o objetivo de explorar o potencial dessa atividade. O primeiro produto criado pela empresa será uma conta pré-paga que permitirá ao consumidor fazer transferências, compras e saques. “Hoje, o usuário que quer pagar as contas pelo celular precisa ser correntista da instituição para ter acesso aos aplicativos”, afirma Marcos Etchegoyen, presidente da MFS. “Com o novo sistema, toda a população poderá fazer transações.” É forte a movimentação das empresas que atuam no setor para acelerar a entrada nesse mercado. Em novembro, a Claro e o Bradesco anunciaram uma parceria para a criação de um cartão pré-pago, previsto para estrear em abril de 2013. Segundo o diretor de novos meios de pagamentos do Bradesco, Márcio Parizzoto, os consumidores terão a vantagem de contar com taxas e tarifas menores.
Emerson Mattozo, 25 anos, usuário da Claro, adotou o pagamento pelo celular há dois anos. “É um meio mais prático e mais barato”, diz. Segundo ele, entre as facilidades que o aplicativo oferece estão leitura do código de barras e a rapidez nas transações. “Hoje é muito raro ir a uma agência bancária para consultar extratos e fazer transferências e, depois que comecei a usar o celular, até a internet deixei de lado.”
De acordo com uma pesquisa divulgada pelo instituto Gartner, até 2014 os usuários do sistema de pagamento de contas por celular vão chegar a 13 milhões na América Latina. Ainda é pouco diante do tamanho dos países da região. No Brasil, apesar dos avanços do setor privado, o governo ainda não aprovou o marco regulatório que vai disciplinar o setor, indispensável para evitar dores de cabeça entre os consumidores. “É importante que as medidas sejam aprovadas para garantir maior segurança aos usuários”, afirma Diogo Ferreira, diretor do departamento de telecomunicações do Ministério das Comunicações. Entre as determinações que irão para o Congresso, as principais são a proibição das operadoras de oferecer crédito aos clientes, o limite permitido para cada operação e a possibilidade de usuários de diferentes operadoras poderem fazer transações sem impedimentos. A carteira de dinheiro, pelo visto, vai sair mesmo de circulação.