O Brasil tem pressa para desatar os nós existentes das redes de telecomunicações e alargar as estradas digitais. A urgência das operadoras para diminuir os gargalos da planta atual não é apenas para atender aos cronogramas da Copa do Mundo, que exige que os serviços de 4G estejam em operação no País até abril de 2013.
Independentemente dos megaeventos esportivos que serão sediados aqui, o País precisa expandir sua infraestrutura de comunicação para suportar a grande demanda de tráfego de dados, que aumentará no mercado local cerca de oito vezes até 2016, puxado pelos setores corporativo e de consumo.
Esse crescimento será estimulado por vários motivos, sendo que um deles é o grande acesso às aplicações hospedadas na nuvem. As estimativas dos analistas são de que em quatro anos essa modalidade de serviço dará um salto no Brasil. IDC, Gartner, Frost &Sullivan, KPMG e outras consultorias sinalizam que muitas companhias vão contratar infraestrutura como serviço (IaaS) dos data centers, que estão em franca expansão no País.
Além do IaaS, as modalidades de software como serviço (SaaS) e plataforma como serviço (PaaS) vão demandar muita conectividade, um dos principais insumos de cloud para que as aplicações possam ser acessadas pela internet, sejam por meio de redes públicas ou privadas. E elas precisam ser sustentadas pela infraestrutura de telecom. Sem ela, não existe nuvem.
Em quatro anos, o mundo entrará na era do Zettabyte. O tráfego global de dados IP deverá alcançar um ritmo anual de 1,3 Zettabyte, o equivalente a transmissão de 38 milhões de DVDs por hora durante um ano. O volume é dez vezes mais que os 121 Exabytes transmitidos em 2008, segundo o estudo Cisco Visual Network Index (VNI) 2011-2016 – Adoção de serviços e crescimento do tráfego IP.
O Brasil acompanha essa tendência. De acordo com a pesquisa da Cisco, o volume mensal de tráfego IP pelas redes do País vai alcançar 3,5 Exabytes em 2016, ante 420 Petabytes em 2011. Os principais fatores para esse incremento são aumento dos dispositivos móveis, expansão dos planos de banda e ampliação da oferta de serviços.
A nuvem está entre os novos serviços que vão exigir mais largura de banda da infraestrutura de telecom. Hoje, todos os data centers do País compõem ofertas para atender ao mercado corporativo. Uma das grandes apostas é a modalidade de IaaS, que desperta interesse tanto dos prestadores de serviços quanto das operadoras de telecomunicações. Oi, Telefônica|Vivo, Embratel e TIM/Intelig já anunciaram suas estratégias para explorar esse mercado (Veja mais informações na página 28).
“O data center é o pulmão de cloud computing. Por isso, existe um movimento frenético no Brasil de empresas desenvolvendo projetos nessa área”, conta João Moura, presidente da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp), entidade que representa mais de 50 empresas prestadoras de serviços de telecomunicações.
Esse movimento, segundo Moura, abriu muitas oportunidades para a construção de novas redes de comunicação. De um lado estão as operadoras de telefonia, ampliando suas infraestruturas para atender a sua demanda interna e também a dos parceiros de data centers. Na outra, há os pequenos fornecedores de rede e os que estão chegando agora ao mercado.
Moura afirma que esse ecossistema de negócios movimenta-se em direção à nuvem. “Cloud gera uma imensa oportunidade de negócios, mas está amarrada no chão”, conta o executivo. Os serviços ficam hospedados em algum lugar físico, que são os sofisticados data centers, equipados com sistemas de segurança, abastecimento de energia e conectividade.
O presidente da TelComp observa que hoje o Brasil tem um gargalo de infraestrutura de telecomunicações para suprir serviços de nuvem. A maioria dos data centers do País está concentrada numa única região, em Barueri, na Grande São Paulo, que apresenta boa cobertura das redes de comunicação.
Anderson Figueiredo, gerente de Pesquisas da consultoria IDC, acredita que a descentralização dos data centers é importante porque os clientes na hora de comprar serviços de nuvem vão dar preferência aos prestadores de serviços que tenham sites por perto.
“A migração para cloud aumenta a dependência do link de internet”, afirma Frank Meylan, sócio da KPMG. Ele considera que o grande calcanhar de aquiles para que os serviços de nuvem levantem voo no Brasil é a infraestrutura de telecom. Segundo ele, as empresas só vão abraçar IaaS se tiverem bons serviços de telecom.
Meylan ressalta que para ter IaaS é necessário fazer contingência com contratação de pelo menos dois fornecedores, sejam eles de redes móveis ou de fibra óptica. “Na região Sudeste, as empresas têm contingência para mitigar o risco quando vão para a nuvem, mas em outras partes do Brasil, telecom ainda é um desafio”, afirma o consultor.
Alguns dos atuais ruídos do setor deverão ser eliminados com as regulamentações e propostas do governo que incentivam práticas competitivas saudáveis e isenção de impostos para a construção de redes de telecomunicações para outras regiões do País. A pressão para aceleração desses projetos virá tanto da necessidade das prestadoras de serviços de explorar novos negócios (como serviços de nuvem), quanto de atender às demandas de consumo.
O interesse das operadoras para explorar nuvem na ponta é em razão do crescimento do número de internautas com dispositivos móveis nas mãos. Estudo da Cisco aponta aumento do volume de conexões à web por meio de dispositivos móveis. No ano passado, esses aparelhos representaram 6% dos acessos à rede e esse índice aumentará para 21% nos próximos quatro anos.
A pesquisa da Cisco prevê ainda que o País terá 617 milhões de aparelhos sem fio acessando as redes em 2012, quase o dobro dos 332 milhões que havia no ano passado. Até lá, cada brasileiro terá pelo menos três dispositivos móveis conectados à internet. Em 2011, essa média era de 1,7 aparelho. O usuário médio de smartphone vai gerar aproximadamente 533 Megabytes de dados, ante 38 Megabytes no ano passado.
Os brasileiros estão consumindo mais dados e congestionando as infovias digitais por vários fatores. Um deles é o aquecimento da economia que aumentou o poder de consumo, estimulando as vendas de celulares e de computadores.
A diretora de Regulamentação Econômica da consultoria LCA, Claudia Viegas, constata que o crescimento de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) tem gerado muitas oportunidades de negócios para telecomunicações. Ela menciona que as classes C e D já representam 58% do consumo brasileiro. Em 2020, esse índice subirá para 78%. O reflexo disso é que essa camada vai comparar mais serviços e incrementar a cesta de produtos de comunicação.
A classe C será o grande alvo do segmento. “Hoje, os três sonhos de consumo dessas pessoas são smartphone, notebook e iPad”, conta a executiva. Resultado disso é a explosão no Brasil de celulares, que faz do País o quinto maior mercado do mundo dessa tecnologia, atrás da China, Índia, Estados Unidos e Indonésia. O País encerrou setembro com 258,9 milhões de linhas móveis ativas, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
O Brasil avança também no consumo de smartphones e já ocupa o 10o lugar no ranking global, devendo encerrar 2012 com a venda de 15,4 milhões de terminais dessa categoria. O número está quase próximo da comercialização de PCs, com previsões para terminar o ano com a entrega de 17,6 milhões de unidades, o que faz do Brasil o terceiro maior do mundo no mercado de computadores.
Com o grande número de equipamentos conectados à internet, as redes de telecomunicações terão de estar preparadas para suportar a grande explosão de tráfego de dados. Os estudos de mercado apontam para o aumento da transmissão de vídeo, que são aplicações que consomem mais banda.
A associação GSMA, que congrega operadoras de celular, prevê que a Copa do Mundo, por exemplo, deverá trazer mais de 1 milhão de conexões em roaming, gerando 300% do tráfego de dados normal por um período de oito semanas. Os analistas estimam que, durante os Jogos de Londres de 2012, foram transmitidos 60 GB de dados na rede no Parque Olímpico a cada segundo, e que esse número tende a crescer bastante nos próximos quatro anos.
Preparar a infraestrutura para dar vazão às novas aplicações é o grande desafio do setor de telecom, considerado importante para o desenvolvimento econômico e social do País. Essa é uma indústria de capital intensivo. Nos últimos 14 anos, após a privatização em 1998, o segmento investiu 260 bilhões de reais, que atualizados chegam a 390 bilhões de reais, segundo dados da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil).
Para 2012, a previsão de desembolso de capital do setor para novos projetos (Capex) é de 24,5 bilhões de reais, montante próximo aos patamares de 2001, quando as concessionárias de telefonia fixa anteciparam investimentos para poder iniciar a oferta de novos serviços.
Como resultado desse aporte, a infraestrutura de telecomunicações cresceu e conta hoje com mais de 240 mil quilômetros de cabos com multifibras ópticas, que já alcançam 331 milhões de clientes, segundo levantamento da Telebrasil. A telefonia móvel chegou a 5.564 municípios, onde moram 99,9% da população. Entre essas cidades, 3.066 possuem redes 3G, com cobertura de 86,7% dos moradores.
Até setembro, o País somava 330 milhões de assinantes de telecomunicações, incluindo TV paga, banda larga e telefonias fixa e móvel. São consumidores ávidos por tecnologia que gostariam que as redes oferecessem serviços de qualidade e internet com alta velocidade para acesso em qualquer lugar por meio dos mais variados dispositivos.
Nem sempre esses anseios são atendidos. Em julho, o setor levou um puxão de orelha da Anatel com a suspensão de vendas de chips de celulares pela precariedade dos serviços. A forma que o órgão regulador encontrou para evitar que essa situação volte a acontecer é com o monitoramento dos serviços, que começa com a medição da qualidade da banda larga fixa a partir de novembro. Os controles vão-se estender também para a internet móvel.