Amos Genish acusa Fundo Elliot, que controla o conselho de administração, de ter conspirado contra ele. |
“Um golpe contra mim”. Foi assim que o agora ex-CEO da Telecom Italia, dona da TIM, Amos Genish, definiu sua demissão realizada na última terça-feira (13), enquanto ele estava em uma viagem de negócios na Coréia do Sul.
O “golpe” teria sido dado pela atual gestora de recursos norte-americana Elliott, que controla o conselho de administração.
“Eles não se comportaram como cavalheiros. Foi um movimento surpreendente contra a governança corporativa: a imagem da empresa não é ajudada se o CEO for removido dessa maneira”, disse Genish ao site Italiano Finanza Online.
“Enquanto eu estava no meio de uma viagem de negócios para a Ásia para falar sobre 5G, e depois que o presidente me garantiu que não haveria um conselho, me tranquilizando pelos rumores de sinais adversos que circulavam, aqui está a convocação da reunião e eles fazem um verdadeiro golpe soviético contra mim. Não houve emergência, eles podiam esperar pela sexta-feira. Evidentemente, existem razões pelas quais eles se sentiram confortáveis fazendo isso enquanto eu estava fora. Com doze horas de antecedência”, completou.
A saída ocorreu poucos dias depois da divulgação dos resultados da empresa no terceiro trimestre. Apesar da TIM ter registrado um aumento no lucro em 38,9% no Brasil, a Telecom Italia teve um prejuízo acumulado de 800 milhões de euros nos nove primeiros meses de 2018.
O resultado se deve à decisão do conselho, tomada na ausência de Genish, de desvalorizar o aviamento (lucro potencial) da TIM em 2 bilhões de euros.
Após a saída de Genish, as ações da TIM agora é uma das piores da bolsa, com rentabilidade de -3,5% a € 0,51.
Na Bovespa, as ações da operadora tiveram uma queda de -5,4% após o anúncio da demissão do CEO, caindo de R$ 11,97 para R$ 11,32.
VIU ISSO?
VIU ISSO?
O executivo estava no cargo desde setembro de 2017, indicado pelo grupo francês Vivendi, principal acionista da TIM, mas que perdeu uma disputa com a Elliott pelo controle do conselho de administração, em maio deste ano.
Duas visões dividindo a TIM
Na entrevista à Finanza Online, Genish afirmou que duas visões sempre se enfrentaram na operadora.
“Podemos nos perguntar se (minha demissão) não é tudo devido às duas filosofias que animam Tim. Uma delas é a daqueles que querem que o cozido da empresa venda as diferentes peças, como Elliott sempre declarou desde o início. O outro é daqueles que, como eu, imaginam um grupo industrial integrado orientado para a plena exploração do potencial tecnológico a partir do 5G. Essas abordagens se chocaram desde o começo. Era impossível trabalhar. Elliott sempre me prometeu apoio para palavras e nunca o fez”, explicou o ex-CEO.
Segundo Genish, os norte-americanos de Elliott conduziam uma campanha secreta há algum tempo para desestabilizá-lo.
“Eles interferiram no meu trabalho e minha habilidade como gerente. Se olharmos para as decisões tomadas e as outras, fica claro que o conselho nunca me apoiou. O ponto de interrogação na minha estadia complicou a imagem. O ambiente hostil tem permeado o ambiente corporativo com disfunções. Se alguém é culpado de como as coisas estão indo, ou de como elas não foram, é o conselho”, desabafou.
O Fundo Elliott não se manifestou oficialmente sobre as acusações de Amos Genish. No entanto, o site Finanza Online relatou a posição de Elliott conforme fontes próximas ao fundo americano.
Para Elliott, “o Genish teve a oportunidade de criar valor e Elliott o apoiou”. No entanto, o fundo não teria ficado satisfeito com os resultados, uma vez que “o progresso real não foi feito e, pelo contrário, (Amos Genish) provou ser um impedimento à criação de valor.”
É importante lembrar que o Fundo Elliott detém uma participação de 5,85% na TIM.
Conforme as fontes do Finanza, durante o mandato de Genish, “o retorno para os acionistas foi de -33,5%. Por esta razão, o conselho decidiu deixar passar. O Genish fazia parte do desacreditado regime da Vivendi e, apesar de não termos sido informados antes da decisão do conselho, apoiamos a revogação. O Conselho de Administração tem agora a oportunidade de fazer a coisa certa e agir no melhor interesse de todas as partes interessadas, adotando as propostas de Elliott para a criação de valor.”
Contudo, o site Finanza questiona se a criação de valor para os acionistas da TIM estará no fundo americano Elliott.
O questionamento vem do fato dos títulos da TIM terem caído mais de um terço, chegando ao valor mais baixo dos últimos cinco anos, após o fundo Elliot assumir o comando.
O conselho de administração da empresa italiana se reunirá no próximo domingo (18) para definir o substituto de Genish, mas a Vivendi deseja convocar uma nova assembleia de sócios para tentar retomar o controle da companhia.
A posição de CEO poderia ser ocupada pelo ex-presidente da Tim Brasil, Stefano De Angelis, considerado o favorito. Mas os nomes dos candidatos internos também são feitos, como o CFO Piergiorgio Peluso e Lorenzo Forina, diretor de negócios e principais clientes.
Divisão da TIM
A ideia do Fundo Elliott de dividir a TIM é antiga e foi expressa em um documento público no começo de abril, conforme o site italiano Start Magazine.
O chamado spin-off é uma medida defendida pelo fundo Elliott, cujo plano envolve a venda da rede de fusão com o Open da fibra com o modelo rab, o retorno dos investimentos com base em dados de coeficiente como com a empresa de energia Terna e Snam.
A separação da antiga rede da Telecom Italia atingiria “até 7 bilhões de euros” em valor, conforme o relatório do fundo americano.
Elliott lembra que o valor oculto devido à falha em desconectar a infraestrutura da TIM representa 41% da capitalização de mercado.
“A forma como as atividades são apresentadas ao mercado influencia sua avaliação”, explica o relatório nos slides divulgados por Elliott.
A operação de cisão do ativo levaria a uma “reclassificação das ações”, diz o fundo norte-americano. “Acreditamos que a desconsolidação NETCO e faísca poderia permitir que TIM maximizasse o valor de seus ativos, o que traria um efeito de alavanca em linha com os concorrentes.”
No documento, o Fudno Elliott ainda enfatiza que “não faz sentido para TIM competir com outra rede”, referindo-se à Oper Fiber, à Enel e à Cassa depositi e prestiti.
Finalmente, continua o relatório, a separação de rede permitiria a TIM reduzisse a sua dívida de 25 bilhões de euros para 12 bilhões de euros e garantiria “um dividendo estável” aos acionistas ordinários, com um cupom total de 1,2 milhões de euros em 2019.
No entanto, especialistas apontam que a realidade é muito mais complicada. Eles lembram que “o problema hoje é uma dívida de cerca de 30 bilhões, com taxas crescentes e fluxos de caixa decrescentes.”