Antes deixada de lado, modalidade voltou a ganhar atenção, benefícios e ofertas pelas operadoras; quando e por que o cenário mudou?
Não se pode negar que o pré-pago já foi uma grande ‘festa’ no Brasil, em especial no início dos anos 2000 até meados de 2014.
Aqui, destacamos o fato de que alguns usuários gostavam de ter chips de várias operadoras a fim de aproveitar promoções de todas simultaneamente, ainda que fosse trabalhoso trocar a todo momento.
Para termos uma ideia, a quantidade de linhas pré ultrapassava 80% entre os celulares do Brasil no ano de 2010.
No entanto, a ‘farra’ começou a caminhar para o fim quando a modalidade perdeu força. Hoje, os pré-pagos não representam nem metade do total de linhas ativas no país.
E se o setor está em baixa, como que as operadoras voltaram a colocá-lo nos holofotes? É o que vamos entender na análise seguir.
Em maio de 2020, por exemplo, o Minha Operadora levantou a questão sobre o fim do pré-pago. Afinal, ainda naquela época, nos primeiros meses da pandemia do coronavírus, o pós-pago estava próximo de ser tornar dominante na fatia do mercado de telefonia móvel.
O motivo? Consumidores estavam cada vez mais direcionados a planos com mais conectividade e benefícios para o uso da internet.
Abaixo, confira o gráfico da Anatel com a evolução de cada modalidade ao longo dos anos:
A cartada das operadoras
De fato, não dá para negar que o cliente do pré-pago ‘sofreu’. Afinal, com a queda, a modalidade passou meses completamente esquecida pelas empresas de telefonia móvel.
Promoções pontuais eram realizadas, mas o fluxo de novidades era mínimo. Podemos mencionar raras exceções, mas ainda assim todos os holofotes estavam voltados para o controle e pós-pago.
As operadoras afirmavam até mesmo, em suas divulgações de resultados financeiros, que modalidades inferiores ao pós eram estratégias de conversão. Como assim?
A equação é simples: converter um cliente pré-pago a controle. Na sequência, começariam a trabalhar as estratégias para fazer com que o consumidor fosse para o pós-pago.
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No entanto, é uma prática funcional? Certamente, a abordagem das operadoras envolve ligações de telemarketing e até mesmo mensagens via SMS com promoções intituladas ‘imperdíveis’.
Mas não se pode negar: é uma estratégia agressiva com muitas chances de ser incômoda aos clientes. Ainda assim, tanto o pré-pago quanto o controle eram vistos como ‘meios de conversão’ entre os anos de 2019 e 2020.
Um case chamado ‘TIM’
A TIM sempre foi a ‘operadora do pré-pago’. Até os dias atuais, em 2021, os clientes da modalidade são dominantes na base da empresa. São números que resultam da estratégia da tele, que nunca hesitou em fazer ofertas agressivas a fim de atrair os clientes pré.
Um exemplo é o saudoso ‘TIM Pré TOP Classic’, no qual R$ 20 mensais resultavam em 4 GB de internet por mês.
Porém, a competitividade entre as operadoras sempre fala mais alto. A TIM, como qualquer outra concorrente, cresceu o olho no impulso do mercado pós-pago e começou a trazer opções relevantes de planos para o mercado.
O pré-pago, visto como esquecido pelos consumidores, começou a se tornar estratégico para migrar clientes a outras modalidades.
Pacotes mensais cederam espaço para os semanais, ou seja, usuários teriam que recarregar toda semana para usufruir dos serviços oferecidos. Na prática, soava como uma estratégia para fazer com que os consumidores ficassem cansados desse fluxo de recargas ou entendessem que um controle ou pós-pago compensava mais.
Outras operadoras também adotaram os famosos pacotes semanais, que muito irritaram usuários de telefonia móvel.
Clientes mais ‘desavisados’ sequer entendiam o motivo de seus créditos terminarem tão rapidamente, visto que eram logo migrados para os planos pré-pagos em vigência.
A veterinária Carolina Jannuzzi, 27 anos, leitora do site, relata que teve uma experiência frustrante com uma determinada operadora ao administrar a linha dos seus pais.
“Meus pais já são idosos, usam muito pouco. Acontecia de eles colocarem créditos e dias depois receberem o aviso que estavam sem recarga no momento em que iam usar. Foi quando liguei para a operadora e descobri que eles haviam sido migrados para pacotes semanais. Coisa que eles nem tinham tempo de usar”, contou.
A pandemia do coronavírus – uma grande ‘virada de jogo’
O cenário mudou justamente quando surgiu a pandemia da COVID-19. O momento, como é de conhecimento público, perdura até os dias atuais e fez com que muitos brasileiros praticassem o isolamento domiciliar a fim de evitar que o vírus se espalhasse.
E obviamente, com todos dentro de suas casas, muitos optaram em cortar alguns gastos. Especialmente com a paralisação das empresas, que resultou em desemprego e suspensões de carteiras trabalhistas.
Com isso, o crescimento abrupto das linhas pós-pagas teve um gargalo.
O pré-pago, mesmo que ainda estivesse em queda, voltou a crescer levemente. O país perdeu mais de 500 mil contas enquanto o pré ficou na casa das 200 mil, segundo dados da Anatel.
Indiretamente, as operadoras receberam um recado: clientes pós-pagos não são mais o ‘ouro’ das receitas financeiras de telecomunicações. Afinal, muitas faziam uma verdadeira corrida para conseguir os clientes fidelizados, a partir da lógica de que todos eram ‘garantias’ de lucros.
Por sinal, o balanço semestral de todas começava a destacar como o fechamento dos pontos físicos de recargas afetou receitas.
Em maio, por exemplo, a TIM mencionou uma queda de 4,5% na receita do pré-pago devido a diminuição no número de recargas. A Oi também não hesitou em criar ofertas para incentivar a modalidade.
Portanto, mesmo que de forma não muito expressiva, o pré-pago provou seu valor. Com ou sem queda no número de contas, é a modalidade na qual o cliente sempre vai recorrer em tempos difíceis.
Isso sem mencionar que a pandemia fez com que muitos brasileiros entendessem seus perfis de consumo. Afinal, por qual motivo pagar contas por serviços que não são utilizados na totalidade?
Portanto, os planos pré-pagos surgiram como a solução econômica na vida do ‘freguês’ de telecomunicações.
É uma modalidade que caiu, mas ainda tem força e não pode ser deixada de lado. Movimento que motivou uma nova estratégia por parte das teles: a fidelização dos clientes pré-pagos.
Uma fidelidade ‘indireta’ e descompromissada
Inegavelmente, o ônus de ter um pós-pago é o compromisso, ou seja, arcar com contas mensais, ter que cumprir um contrato de fidelidade entre 12 e 24 meses e, para somar, correr o risco de ter o nome negativado ao atrasar as faturas.
Porém, como já foi pontuado na publicação, as operadoras gostam mesmo é de ter os clientes fidelizados. É receita garantida sem todo aquele ‘vai e vem’.
E por que não fidelizar os pré-pagos? Obviamente, isso é feito de maneira indireta e menos compromissada, mas há uma lógica comercial por trás.
A TIM sempre teve ouro em mãos, mas demorou a acordar. É o caso do TIM Beta, que ficou meses sem apresentar novidades aos seus clientes.
Há pouco tempo, o plano sequer disponibilizava ligações ilimitadas para seus assinantes. O valor sempre foi acessível para a quantidade de internet que é disponibilizada, mas a oferta parou no tempo e só subia de valor.
Na prática, o pré-pago ‘premium’ da operadora é uma estratégia eficaz. O usuário é obrigado a manter recargas mensais de R$ 60 para não perder seus generosos benefícios e quem não colocar créditos é reduzido na pontuação.
Mas os últimos meses trouxeram um ‘upgrade’ para o TIM Beta, que inclusive assumiu uma posição de destaque na estratégia da operadora, com o lançamento do TIM + Vantagens.
O app é uma espécie de ‘clube de vantagens’ para os clientes pré-pagos, na qual eles participam de sorteios e outras ações para ganhar prêmios. As atividades são liberadas de acordo com a recarga do consumidor.
Sendo assim, é possível dizer que a empresa começou a compreender que ganha mais ao saber atender clientes de todos os perfis e não apenas utilizar uma modalidade para impulsionar a outra.
A Claro também não pestanejou. Nos últimos dias, surgiu até mesmo com uma opção totalmente gratuita para pescar novos clientes no pré.
Os pacotes convencionais ganharam acesso ao app de estudos Descomplica, o streaming NOW, WhatsApp Ilimitado e até mesmo internet em dobro. As ofertas possuem validade, mas vários consumidores relatam que continuam com a internet dobrada após o período sinalizado.
Já na Vivo, vale destacar o atacadão da telefonia móvel que é o Vivo Easy. Os preços não são dos mais acessíveis, mas o plano se tornou uma alternativa para quem quer gastar de acordo com o seu próprio uso.
Afinal, se o usuário comprar 10 GB de internet, só terá que fazer uma nova compra no plano quando usar esses dados móveis na totalidade. Não existe validade.
Abaixo, confira o ‘sobe e desce’ de cada operadora no pré-pago:
Caminhos futuros
Antes de entrarmos na nossa conclusão, é importante destacar que o pré-pago das operadoras se provou uma gigantesca base de dados até mesmo para parcerias.
Mais uma vez, um exemplo a ser mencionado é a TIM, que aproveitou a cartela de consumidores para promover uma parceria com o C6 Bank. Para aproveitar o embalo, a operadora quer até mesmo ofertar serviços financeiros para a modalidade.
Se o Brasil está uma montanha-russa econômica, não há nada mais justo do que as operadoras abrirem mão de tentar controlar a jornada e o perfil do cliente.
Diante de todo esse cenário, é evidente que usar as modalidades mais flexíveis e baratas como estratégia de conversão não é a ‘caminhada’ adequada para o momento.
Portanto, o mercado tem grandes chances de ter uma melhor fluidez se as empresas de telecomunicações assumirem a perspectiva de que precisam incentivar o consumo de todas as suas modalidades. Sem que uma ou outra tenha mais atenção e ofertas especiais.
Porém, o futuro trará o 5G e uma retomada econômica pós pandemia, já que o mercado tem esperanças na vacinação em massa para diminuir a circulação do coronavírus. Até lá, tudo pode mudar!
Com informações de Anatel, Teleco e Teletime