O anúncio de que a Oi vai construir 230 km de fibras ópticas no Amapá foi um sucesso midiático. E faz certo sentido, visto que o estado tem a menor penetração de uso pessoal da rede. Até bem pouco, mesmo a capital, Macapá, só contava com conexões via satélite, caríssimas. Lá é preciso desembolsar cerca de R$ 200 por mês para acessos a 300 kbps. Ajuda a entender porque é onde o acesso é majoritariamente feito por lan houses – 76,6%, o maior percentual do país.
O governo federal, no entanto, foi atropelado pela divulgação organizada pelo governo estadual e a concessionária. Originalmente, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, foi a Macapá para festejar o primeiro contrato da Telebras no estado, juntamente com o presidente da estatal, Caio Bonilha. Era para ser um evento do Plano Nacional de Banda Larga.
Dono da casa, o governador do Amapá, Camilo Capiberibe (PSB) preferiu dar destaque ao compromisso da Oi de implantar fibras ópticas entre os municípios de Calçoene e Oiapoque. A obra, orçada em R$ 32 milhões, terá metade dos recursos financiada por renúncia de ICMS no estado. Para erguer torres ao longo da rodovia BR 156, a Oi ainda precisa de licenças ambientais e da Funai.
Para destacar essa futura obra, com recursos públicos, foi preciso esvaziar o motivo original da visita das autoridades ao Amapá: o empreendedorismo de uma empresa local que já construiu uma rede com o dobro do tamanho daquela prometida pela concessionária – cerca de 400 km para buscar link de Internet no Pará. Graças a essa rede, de enlaces de rádio, que o sinal da Telebras agora chega a Macapá.
A empresa autora da façanha, a Você Telecom, acabou escondida no evento da última sexta-feira. Sequer foi mencionada pelo governador e ficou no fundo do auditório do Museu Sacaca. Mal recebeu atenção, também, a ligação online feita com o primeiro assinante do PNBL em Macapá. Izaías Ferreira, 42, que sustenta mulher e três filhos com bicos de pedreiro e encanador, teve a transmissão cortada.
Ao lado de um aliado político – o PSB é da base do governo – o ministro Paulo Bernardo viu-se em nítida saia justa. Diante do cenário, fez um discurso protocolar. Afinal, o Amapá preferiu reverenciar o futuro – na melhor das hipóteses, a Oi vai precisar de seis meses para conectar alguém por R$ 35 no estado – e ignorar o presente, ou seja, quem já oferece exatamente isso.
Para isso, a Oi dominou, com apoio do governador, um evento organizado pela Telebras. A concessionária chegou a marcar um evento na sede do governo do estado, para uma hora antes da “festa” da estatal com o ministro. Às pressas, mudou o plano e decidiu transferir o anúncio das fibras para o mesmo espaço, na mesma hora. Funcionou. Com a gigante concessionária no palco, quase ninguém da imprensa percebeu a pequena Você Telecom no fundo do auditório.